NO OUTRO LADO

Enquanto descia a rua, de sacos de mercantil na mão, calças jeans com mais de sete anos e uma blusa amarrotada... sorriu ao de leve. Já estava tão habituado à rotina que aquele lugar já era a sua casa. Voltara a morar no mesmo prédio de antigamente, só ligeiramente mais abaixo, no 1703. Fazia parte da sua rotina levantar-se cedo, a muito custo, frequentar a universidade, trabalhar arduamente quando chegava a casa, tirar um tempo para sapatear e tomar uns cafés de fim de tarde com os amigos. E tudo já estava no esquema da sua cabeça. Esta era a sua vida no outro lado do oceano. O apartamento era ligeiramente maior, mais arejado, mais confortável e os dias passavam a voar. Ainda nem tivera tempo de assentar e já começava a imaginar o dia em que teria de deixar tudo aquilo para trás e retomar a sua vida na sua casa lisboeta. Eram duas realidades opostas, eram duas formas diferentes de viver. Não era uma questão de decisão, ele sabia que a sua estadia no outro lado do oceano era temporária e assim devia ser. Cada coisa tem o seu lugar para acontecer. Não se deve estender aquilo que tem o seu tempo determinado para acontecer. Deve-se viver, aproveitar e partir. Mas dizer adeus não é, de todo, uma coisa fácil... dói no coração, na alma, no corpo...

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