Acção passada quinta-feira dia 14 de Agosto de 1977
Quando António descobre as roupas no armário

António estava sozinho em casa, a avó tinha ficado doente sem poder tomar conta de si. Estava por sua conta, entregue a uma tarde de verão quente, sem nada para fazer. Deambulou pela casa e tentou tomar atenção a todos os pormenores. Tentou encontrar os defeitos das portas e das janelas. Rastejou-se de costas pelo chão enquanto contava as manchas de humidade no tecto. Ainda perdeu algum tempo aos saltos em cima da cama dos pais mas quando viu o armário da mãe ficou pensativo. Lentamente desceu da cama e dirigiu-se às duas grandes portas forradas de espelhos e tentou olhar para si mesmo enquanto espreitava para o seu interior pela fresta. Abriu uma das portas e contemplou o guarda-roupa. Sempre se perguntou porque é que os homens não podiam usar saias ou saltos altos. Se a sua mãe ficava tão bonita porque não poderia ele ficar também. Tirou uma saia do cabide e vestiu-a. Mas a saia era grande demais e por isso transformou-a num vestido. Olhou-se as espelho e gostou do resultado. À sua nova indumentária juntou um chapéu preto de grandes abas e, da caixinha das jóias, retirou um colar com o qual se enfeitou. Algo de excitante se passava dentro dele. Parecia estar a descobrir um outro lado de si mesmo. Voltou a deambular pela casa mas agora vestido a preceito, imitando alguns gestos usados pela sua mãe.

Entrou na casa de banho e abriu a gaveta das maquilhagens. Começou pelos batons, escolheu o cor-de-rosa e começou a pintar os lábios. Tentou reproduzir os gestos da sua mãe mas isso só fez com que ficasse tudo esborratado. Depois, pegou no pincel e abriu algumas pequenas caixinhas com pós. Passou pela cara sem saber muito bem o que estava a fazer. Perdido naquelas experiências nem tinha dado pela sua avó ter entrado em casa.

- O que é que pensas que estás a fazer? Tu não és mulher! És um homem e os homens jogam à bola. O que é que eu faço contigo. Só me faltava agora um maricas. Despe já essas roupas e vai para o banho. Não fiques a olhar para mim. Agora! E se eu não contar ao teu pai tens tu muita sorte.

Com a vergonha estampada no rosto António despiu-se em frente à sua avó, entregou-lhe as roupas da mãe e entrou no banho.

- Quero isso tudo bem lavado. Ouviste?
- Avó Lurdes não conte ao pai. Não foi por mal.
- Vou pensar no que fazer. Mas agora limpa-me essa porcaria da cara.

1 comentário:

Debora Silva disse...

te amo.. sinto muito sua falta...
ta foda estes ultimos tempos .. :~~~
queria vc aqui!