Acção passada Sábado dia 26 de Dezembro de 1992
Quando António chega a casa...
Tentou ser o mais silencioso possível, que ninguém desse pela sua entrada, mas o candeeiro do quarto dos pais acendeu-se automaticamente.
- És tu filho?
- Sou eu pai.
Mas não queria falar muito. A sua cabeça andava aos trambolhões por dentro e naquele momento só conseguia pensar em ir lavar-se e tirar da sua pele toda a imundice que trazia consigo. A ideia de ser cheirado com o cheiro de outro homem repudiava-o. Tinha vergonha de si e das suas atitudes. Entrou na casa de banho e em poucos segundos estava nu e com a água a correr. Agarrou no sabonete e esfregou o seu corpo como se este estivesse encardido com a maior das sujidades. As lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto, encostou-se à parede e deixou a água correr sobre si.
Havia nele uma dualidade de pensamentos. Se por um lado sentia-se sujo, por outro parecia que o mundo tinha ganho uma nova cor que o deixava feliz. Mas essa felicidade vivia rodeada de barreiras mentais e educacionais que António não conseguia ultrapassar. Olhou para o seu corpo e sentiu nojo, horas antes tinha-o entregue sem pudor a um desconhecido, tinha-se entregue aos prazeres da carne sem amor, tinha-se prostituído a custo zero e tudo para que pudesse sentir um pouco de contacto físico masculino. Ao longo dos anos havia-se sentido alienado do mundo, da sociedade, apartado das outras pessoas, brutalmente só em busca de um valor a que chamava liberdade. E ao percorrer esse caminho só encontrou desespero, vergonha e raiva.
A água continuava a correr e já há meia hora que tinha parado de se lavar. Simplesmente não conseguia sair dali, isso significaria encarar o mundo, viver com aquele peso na consciência, acordar de manhã e encarar os seus pais, sorrir-lhes e fingir que tudo estava bem mas por dentro só lhe apetecia gritar. Porque não podia ser simplesmente ele?
Quando António chega a casa...
Tentou ser o mais silencioso possível, que ninguém desse pela sua entrada, mas o candeeiro do quarto dos pais acendeu-se automaticamente.
- És tu filho?
- Sou eu pai.
Mas não queria falar muito. A sua cabeça andava aos trambolhões por dentro e naquele momento só conseguia pensar em ir lavar-se e tirar da sua pele toda a imundice que trazia consigo. A ideia de ser cheirado com o cheiro de outro homem repudiava-o. Tinha vergonha de si e das suas atitudes. Entrou na casa de banho e em poucos segundos estava nu e com a água a correr. Agarrou no sabonete e esfregou o seu corpo como se este estivesse encardido com a maior das sujidades. As lágrimas começaram a escorrer-lhe pelo rosto, encostou-se à parede e deixou a água correr sobre si.
Havia nele uma dualidade de pensamentos. Se por um lado sentia-se sujo, por outro parecia que o mundo tinha ganho uma nova cor que o deixava feliz. Mas essa felicidade vivia rodeada de barreiras mentais e educacionais que António não conseguia ultrapassar. Olhou para o seu corpo e sentiu nojo, horas antes tinha-o entregue sem pudor a um desconhecido, tinha-se entregue aos prazeres da carne sem amor, tinha-se prostituído a custo zero e tudo para que pudesse sentir um pouco de contacto físico masculino. Ao longo dos anos havia-se sentido alienado do mundo, da sociedade, apartado das outras pessoas, brutalmente só em busca de um valor a que chamava liberdade. E ao percorrer esse caminho só encontrou desespero, vergonha e raiva.
A água continuava a correr e já há meia hora que tinha parado de se lavar. Simplesmente não conseguia sair dali, isso significaria encarar o mundo, viver com aquele peso na consciência, acordar de manhã e encarar os seus pais, sorrir-lhes e fingir que tudo estava bem mas por dentro só lhe apetecia gritar. Porque não podia ser simplesmente ele?
2 comentários:
Se se sentiu porco é porque a sua natureza não é essa. Por vezes queremos muito fazer algo, seguir um certo caminho mas no fundo, cá no fundo, não é essa a nossa natureza, o que queremos na vida.
Esta personagem parece-me ser a tipica pessoa que está a descobrir um mundo novo que lhe agrada, um mundo de uma certa promiscuidade e vontade de fazer coisas novas, mas que mais cedo ou mais tarde vai perceber que não é isso que quer. Enquanto viver esta nova vida, esperemos que não se cruze com o amor.
Maria, neste texto António tem pela primeira vez na vida relações sexuais com outro homem e acaba de chegar a casa (continuação de um texto anterior em que ele conhece o outro no bar). Ele sente-se porco porque toda a vida lhe disseram que era errado, toda a vida o levaram a pensar que ter esses sentimentos por outro homem é ser uma aberração. Ele vive no dilema de ter gostado e ao mesmo tempo do medo de enfrentar o dia seguinte a saber que afinal ele é diferente. Ele não está fascinado pela promiscuidade, mas sim pelo facto de um homem poder efectivamente estar com outro homem e ser bom.
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