Acção passada terça-feira dia 8 de Janeiro de 2002
Quando Filipe decide alugar o apartamento

- Se gostaste daquele apartamento porque é que não ligas para a senhoria? Talvez esteja aqui a oportunidade de recomeçar tudo que tu tanto procuravas. Vá lá... se pensares muito é que não decides nada.
- E quem é que me diz que amanhã não aparece um apartamento que eu goste mais?
- Mas tu adoraste aquele apartamento. É claro que vão existir sempre apartamentos melhores, mas isso é como em tudo na vida e de qualquer modo tu só o estas a alugar, não tens grandes obrigações. Tem-se sempre é de começar por algum lado. Hoje é este apartamento, amanhã logo se vê.
- E o que é que tu achaste do apartamento?
- Tu já sabes que eu gostei do apartamento, mas isso não interessa nada, és tu que vais viver nele. E se tu gostaste do apartamento liga para a senhoria antes que percas a tua vez. Há momentos na vida em que temos de arriscar.
- E se corre tudo errado?
- Se pensares assim vai mesmo correr. Tens de ser positivo, vais ver que vai dar tudo certo.
- Não sei António.
- Põe os teus medos de independência de lado e liga. Tu bem sabes que o teu pai vai sempre ajudar-te se ficares em apuros.
- Ok. Onde é que eu pus o número?
- Está aqui.

Passados quinze minutos estava tudo orquestrado. No dia seguinte iriam assinar o contrato e a chave da nova casa passaria para as suas mãos.

- Vês como não custou nada?
- Não custou agora, vais ver amanhã quando tiver de dar o dinheiro. Estou perdido! O que fui fazer.
- Não sejas dramático, já tens idade para ter juízo. Eu tinha vergonha se aos vinte e nove anos ainda estivesse em casa dos pais. Mas isso é só a minha opinião.
- Opinião essa para a qual eu estou-me nas tintas. O que importa agora é que vou ter a minha casinha, por isso bem podes começar a esquecer as saídas à noite, as idas ao cinema e jantares fora. É a isto que eu chamo independência!

5 comentários:

Anónimo disse...

A história da indecisão relativa ao apartamento por pdoer aparecer um melhor faz-me lembrar o que algumas pessoas fazem em relação à sua vida amorosa. De tanto medo que têm de que apareça alguém melhor podem perder a oportunidade de estar com alguém que se revele inigualável.

Gostei também do final desta acção, como o conceito de independência pode significar tanta coisa :D

Adorei o texto, como já vem sendo hábito.

Abraço ;)

Pedro Eleutério disse...

O engraçado da escrita é que adquire vários significados consoante a pessoa que lê. Eu quando escrevi este texto nem me tinha passado pela cabeça essa metáfora às relações.

E obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...

Também achei bastante curiosa a visão do Mickael. De facto acontece com as pessoas, muitas só estão bem onde não estão. Por quererem tudo, por quererem alguém perfeito, por insistirem nos defeitos de quem têm a seu lado, esquecem-se muitas vezes de ver que esse alguém é um ser humano que nos ama e nos vê e sente como ninguém. Pode não ser perfeito (ninguém é,) e faltarem-lhe qualidades ás quais damos muita importancia, mas outro que as tenha, provavelmente não terá aquelas que esse alguém tem e que se revelam insubstituiveis. Perdem-se umas coisas, ganham-se outras, só que por vezes o que perdemos era aquilo que mais valia a pena, mesmo com muitos defeitos.
Ele fez bem ficar com esta casa.

Pedro Eleutério disse...

Maria, a ideia de pessoas insubstituiveis do meu ponto de vista não é correcta. Podemos sofrer muito por perder alguém, mas muitas vezes o medo dessa ideia é que gera maior sofrimento. Porque achamos que nunca mais seremos felizes. Mas como é óbvio sofreremos sempre muito com a perca de alguém muito especial.

Se ele fez bem em ficar com a casa... não sei se poria as coisas nesses termos. Ele tinha uma decisão a tomar e tomou. Essa decisão fez-lhe viver uma vida diferente daquela que teria vivido se não tivesse ficado com ela. O importante é que ele arriscou em algo que acreditava. Mas como descrito no primeiro texto desta história, passados dez anos do que foi relatado neste texto, ele deixou a casa... outra decisão que ele teve de tomar.

Anónimo disse...

Para mim há pessoas insubstituíveis e nunca ninguém ocupará o lugar delas. Poderão não ser muitas, mas existem. As pessoas que mais amamos não se substituem mesmo que a vida continue.