DESPERTAR

Os anos passam e continuo a fazer contas à vida, é mais um dia... é mais um! É só mais um. Atendo o telefone simplesmente porque ele toca, em tempos tocava menos, mas também sabia melhor quando tocava. Não gosto de mensagens, gosto de falar, de me expressar. Sou demasiado expressivo para pequenos textos rápidos. És tu outra vez... não, não te quero ouvir mais uma vez. Estou cansado de dar conselhos, cansado de ser um ombro amigo. O meu corpo já não reage... cada vez menos. Boneco insuflável. Toca a campainha... ah és tu! Também não te quero ver. Deixei a louça toda em cima do balcão e alguns cabides desarrumados. O que é feito daquela roupa? Deve ter ficado esquecida algures. Não quero pensar nisso. Acerto os relógios da casa, cada um tem a sua hora... vicio de quem tem o vício de não se atrasar. Quanto mais perto da porta mais o relógio está adiantado. Estou atrasado! Não... na verdade não estou. É tudo estratégia. Tomo um comprimido, estou a sentir-me febril e isso não é bom. Bom era ter mais tempo para ler. Acordo com dores no corpo... estou terrivelmente atrasado. Deixei-me dormir em pensamentos. Desligo o telefone e fecho a porta. Lá fora pode ser o mundo, mas aqui sou só eu.

5 comentários:

João Roque disse...

Tão belo como inquietante, Pedro...
Escreves lindamente e transmites os teus sentimentos com uma facilidade tão límpida... mas por vezes assustas...
Beijo, pode ser?

peter_pina disse...

coloca nos teus relogios: parar e ficar só ctg!

Pedro Eleutério disse...

Pinguim,
ainda estou para perceber a parte que assusta. É só um pedaço de vida...
Um beijo para ti também (é claro que pode ser)

Pedrinho,
Eu já fico só comigo... não tenho feito outra coisa senão ficar só comigo...
Um beijo e até já!

paulo disse...

eu, às vezes, prefiro as mensagens que a voz pode ser demasiado genuína e prefiro o meu mundo. também nem sempre me apetece sair dele; simplesmente isso, com ou sem relógios com horas certas.
abraço

Pedro Eleutério disse...

Olá Paulo,
nas mensagens temos a capacidade de dizer coisas que de outro modo não conseguimos verbalizar, na verdade podemos até ser mais genuínos... ou não.
outro abraço