UNS DIZEM...

Uns dizem que é com o tempo, os outros não sabem bem o que dizer. É sempre a saudade que nos mantém presos. De cama em cama um desejo que não tenho. A busca de um prazer que ficou longe, perdido no tempo, congelado na memória. Mas são as linhas das mãos que contam a história.

Uns dizem que é com a vida, os outros não sabem bem o que dizer. A vida ensina-nos muito, mas temos de querer aprender. Amanhã já não contamos com ela. Foi-se. E o que restou para quem ficou restará para quem ficará. Mas as memórias são fracas diz Lewis. E a dor... ai a dor, que se espelha nos reflexos da cidade... não ficará para contar o que não viveu.

Uns dizem que é com a vontade, os outros não sabem bem o que dizer. Na hora h entra-se em histeria. Quando é a altura certa já esta deixou de ser. O desejo corroi-se por dentro com a negação do afecto. A negação de quem somos. A negação do que queremos. É a vontade de correr com os pés presos.

Uns dizem que não é com nada, os outros não sabem o que dizer. Esperam sentado por uma vontade de viver o tempo...

4 comentários:

João Roque disse...

Não é que um estilista não possa ser simultâneamente um escritor, poeta ou contista, mas não é muito comum...
Tu tens o dom da palavra e de a saber usar, escrevendo; cada vez me surpreendes mais nesse campo, e positivamente, claro...

Abraço amigo.

paulo disse...

sempre as memórias, ou o que delas resta. de facto, sempre sentimos sensações diferentes para a mesma experiência. e a única certeza é que não há certezas. tudo o resto passa e a morte sempre mais próxima.

abraços

Debora Silva disse...

a saudade é uma memória infinita.

Pedro Eleutério disse...

Querido Pinguim
O meu avô era escritor e desde muito cedo que as palavras escritas fizeram parte do meu dia-a-dia, de quem sou e de como interajo com o mundo. Se tenho ou não o dom de saber usá-las não sei, mas não deixarei de o fazer. E obrigado pelas tuas palavras.

Paulo
As memórias são um espaço de acção muito ambíguo. Um espaço que vive preso a um tempo determinado e que se vai alargando com desvios da imaginação, do coração, do sentir o mundo que é real no hoje. Sim, a morte está sempre cada vez mais perto do nosso último dia mas nós viveremos enquanto existirmos na memória de alguém.

Débora,
E que saudades eu tenho tuas... espero que em breve estejamos juntos outra vez.