CONVERSAS ENTRE A VIDA E A MORTE II

- Estás aí?
- Eu disse-te que estaria; não disse...
- Eu sei que disseste. Mas nem sempre acredito que ainda falo contigo.
- Mas aqui estou eu. Podes falar. Do que queres falar hoje?
- Não sei bem. Estava aqui a olhar o mar e lembrei-me de ti. Lembrei-me que a saudade existe em mim desde o momento em que partiste. No momento em que achei que nunca mais iria ouvir a tua voz. E nesta brisa refrescante do ar, foi como se me abraçasse e me reconfortasses um pouco. Tu, que corres na brisa do vento, ainda sentes a sua aragem?
- A forma como eu experiencio as coisas é diferente. Muita coisa muda quando o nosso corpo não é mais físico. É verdade que já não sinto o reconforto da brisa... Eu agora sou a brisa. O teu conforto.
- Isso quer dizer que não tens ninguém que te conforte?
- Não podes ver as coisas segundo esse prisma. É claro que eu tenho quem me conforte. Ou julgas que por vezes também não me sinto sozinho? Só que o reconforto aqui é diferente do que estás habituado a experienciar. Aqui somos as partes de um todo. Aqui somos aquilo que vocês não conseguem ser aí. No entanto também temos os nossos medos e dúvidas. Eu nem sei se o que estou a viver agora será eterno. Dizem por aqui que quando não houver mais ninguém que pense em nós mudamos para outro estágio da vida. Mas são só rumores. Um dia, numas voltas que dei por aí escutei uma conversa. Eles falavam da reencarnação. Do nosso regresso à terra enquanto corpo físico. Deduzi que esse seria o terceiro estágio da vida. Quando mais ninguém nos requisitar aqui, voltamos à terra. Mas como sabes, nunca fui uma pessoa de muitos estudos aí na Terra. A vida não me proporcionou essa educação e muito do que tenho aprendido tem sido agora. E, por isso, às vezes é-me difícil entender certas questões.
- Eu não gosto muito de pensar no que virá depois da morte. Quando morrer logo saberei. Agora tenho de me preocupar com a vida.
- Obrigadinho...
- Eu não quis ofender-te. Mas a verdade é que eu nem sei se a tua voz não é fruto do meu imaginário. Se não sou eu que te criei na minha cabeça, a viveres nesse outro mundo. E tu sabes como eu sou imaginativo. Podes muito bem já nem existir com consciência de poderes dizer-me todas estas coisas. Mas não fiques triste. Pois enquanto tiver o poder de te imaginar, podes contar sempre comigo.
- A verdade é que é tudo uma questão daquilo em que queres acreditar. Daquilo a que a tua mente se dispõe a fazer existir. Tu és aquilo que quiseres ser, aquilo que acreditares ser. Mas também sabes que não é só acreditar. Tens de fazer por isso. Para eu não deixar de existir tens de chamar por mim. Não vale a pena só acreditares que eu existo. Tens de me fazer vir ao teu encontro. Tens de me tornar real!

3 comentários:

Paulo disse...

E os que em quem a morte não teve poder....???
Excelente "mensagem"
Obrigado
Paulo

Anónimo disse...

Para o teu avô.

margarida disse...

Sem palavras, a não ser... escreve mais para eu ler.

abraço daqueles***