A META

Ele não conseguiu suster mais a respiração e, sofregamente, inspirou todo o ar que pôde para dentro dos seus pulmões. Deixou-se estar, assim, a respirar lenta e pausadamente toda a essência que compunha o ar, apreciando o mar que o envolvia. Sentia um peso no seu interior, entre o peito e a barriga, que lhe desconcentrava a vista. A náusea da imaginação de um último inspirar, para que a seguir pudesse, inconscientemente expirar e retornar ao processo inicial, a incapacidade de decisão em relação a todo o processo deixava-o desalinhado. Era a vida que o compunha, nunca a morte. Nunca convivera muito bem com a morte. E a ideia de perder alguém estava-lhe atravessada como um punhal no coração. Velar um corpo era como velar a própria vida. A debilitação da acção perante o efémero. Apreciava então a vida com as suas últimas forças, como se dos últimos metros de uma prova de corrida se tratasse. Só restavam aqueles metros... era correr o mais depressa que podia. Para ele, isto era vida. E mesmo que perdesse a corrida, sabia que tinha dado o seu melhor. Sabia que aquele esforço nos últimos metros não tinha sido em vão.

Poder-se-á entender a beleza da chegada, da finalização, da concretização, quando não damos tudo no seu término? Quando deixamos o corpo ceder? Quando deixamos de acreditar em nós? Quando sentimos que não vale a pensa o esforço daqueles últimos instantes já que não vamos chegar em primeiro lugar?

4 comentários:

margarida disse...

O meu menino, o meu atleta, tu és daqueles que corre o mais rápido que pode, que nunca deixa de acreditar em si mesmo. Admiro-te imenso Pedro, eu não tenho a tua eloquência, nem o teu savoir faire, e por isso quando leio aquilo que escreves e entro na tua cabeça, no teu coração, na tua alma, sinto-me sempre fascinada, como se todas as vezes fossem a primeira vez, és um talento inato.
A mim basta-me seres tu a ler o meu blog e dares a tua sincera opinião, embrulhada nos teus elogios tão lindos. Obrigada por fazeres parte da minha vida.
Também te adoro.

Manuel disse...

A Morte, esse final tão certo que nos espera a todos... Sempre tive medo da morte, embora acredite que existe alguma coisa do outro lado sempre me incomodaram os rituais funebres e a morte em si.
Convivi, durante muito tempo com Ela. Mas era a morte dos outros, era a morte de estranhos. Acho que, então, me tornei frio como Ela, sempre que esta andava por perto.
Mecanismos de defesa, cada um desenvolve aqueles que mais se adequam. mas só de pensar a morte daqules que me são queridos fico completamente fora de mim.
Prefiro não falar dela...

Anónimo disse...

A morte é certa....vivamos a vida da melhor forma como se a morte nunca nos visitasse um dia...a alegria de fazer aquilo que mais ansiamos, concretizar sonhos, amar, darmo-nos aos outros...quando ela chegar...partimos mas com a alma cheia !

Pedro Eleutério disse...

Ainda não tenho a hábito de responder aos comentários. Mas agora o faço. Para já quero agradecer a todos aqueles que visitam os meus blogs, acompanhando a minha viagem pela vida, e neste caso mais concreto, pelo Brasil. Nesta aventura de aprender um pouco mais dentro de outra cultura. Não é fácil ir embora e deixar para trás a nossa vida certinha e arrumada. Mas não pude deixar de o fazer. Este sou eu, aquele que corre o mais rapido que pode para obter o melhor resultado mesmo que o resultado seja ficar em terceiro ou quarto lugar. Efectivamente, a vida, para mim, é uma coisa extraordinária de experimentação do nosso prórpio eu, de exploração de todas as nossas potencialidades, um jorro de energia. E, um dia, sei que partirei com a alma cheia deste mundo. E se um dia sentir que assim não será, rapidamente mudarei o rumo da minha vida, correrei ainda mais nos últimos metros, não me deixarei ficar para trás.

Obrigado margarida, manuel e mãe pelas vossas palavras