II. AMOR CORRECTO

Segue então a sua caminhada para a descoberta do que era o amor de que todos falavam. E a verdade é que ninguém o deixou experienciar o amor por forma a que ele lhe atribuísse essa palavra. O amor já estava repleto de significados, signos e significantes. Já era um sentimento formado. Algo que teria de se obrigar a sentir. E percorria os olhos em leituras ávidas, leituras cautelosamente estudadas, sugando toda e qualquer infirmação que lhe permitisse entender o que teria de sentir.

O problema foi quando se apercebeu que não conseguia expressar-se segundo aqueles modos românticos, poéticos, idílicos, “patéticos”. Sabia sentir os outros de uma forma fugaz, alterada, engelhada, capaz de fazê-lo chorar noites e dias, cometer loucuras e destruir-se aos pedaços pelos cantos da casa. Mas não se sentia apto para corresponder às regras e planos estipulados. E começou a achar patético o “amor”, assistir ao sofrimento dos outros pela não concretização da história do príncipe e da princesa. Por não os arrancarem do sono com um beijo carregado de um testamento de ...e viveram felizes para sempre... e, em todos os lugares, o repugnante sentimentalismo das lágrimas nauseantemente mal amadas.

E quando estava com alguém sentia a necessidade de pedir desculpas por não corresponder ao pretendido, por não conseguir ser aquilo que todos esperavam que ele fosse. Aquilo que todos esperam que todos sejam. E muitas vezes sentia-se culpado por não conseguir amar “correctamente”. Amava à sua maneira. Amava porque sentia. Amava porque estava vivo. Amava porque encontrou o seu significado para essa palavra. Porque sentiu algo a que resolveu apelidar de amor.

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