A DESPEDIDA É UMA TÃO DOCE TRISTEZA

Não sabia que o vento já cruzava para esses lados. Talvez tenha-se encantado pela beleza das aves; talvez pela beleza das ondas; talvez pela simplicidade dos raios de luz. Inventou um mundo e nele foi vivendo cuidando que todos viviam nele. Mas estava a enganar-se a si mesmo. No seu mundo vivia apenas ele, no mundo dos outros viviam apenas os outros, e no mundo dele vivia apenas ele. E depois existia aquele mundo paralelo onde todos viviam juntos. Onde todos julgamos olhar para as mesmas coisas, mas a percepção que cada um tem de cada coisa é única, distinta e pessoal. Cada um vê o que quer ver, retira as informações que quer retirar e chega às conclusões que bem entender. E, afinal, é essa a beleza que faz o mundo girar – as contradições dos olhares, a relação especial que cada um tem pelas coisas. A cacofonia dos sons, os alertas inesperados, os acontecimentos casuais, os ordinários, os extraordinários. Talvez um dia cruzem-se no meio da rua e seja como a primeira vez, talvez nunca mais se encontrem. Talvez o oceano o engula e ele vire um peixe das profundezas. Talvez as aves migrem com o vento que mudou.

Depois existem as mudanças. Todos mudam e eles mudaram. O curso fez com que assim fosse. Era inevitável. Mesmo que não quisessem isso iria acontecer naturalmente. Eles já não são os mesmos, são mais do que os mesmos, são actualizações desses mesmos... e como iriam lidar com isso? Como seria lidar com aquilo que antes não estava lá e agora já faz parte? Mas não, eles não estavam perdidos, sabiam muito bem como se encontrarem. A música que ouviam ainda era a mesma. E as notas ainda saíam dos mesmos lugares. Mas a forma como as ouviam já não eram as mesmas. E cada um foi pintando a vida com outras cores. Será que as cores ainda iriam combinar? Talvez... com um pouco de imaginação. Aliás, como para tudo na vida é preciso um pouco de imaginação.

Naquele lado o brilho da vida era diferente. Habituara-se demasiado àquilo... não ia ser fácil, mas não tinha outro remédio. A despedida é uma tão doce tristeza. E a brisa que corria era tão agradável com todos os cheiros que ela trazia, ia sentir saudades de ser um habitante das terras da luz. Mas sabia que de uma maneira ou outra iria sobreviver. Afinal levava o sol dentro de si e um sorriso no rosto.

* A todos os brasileiros que encheram o meu coração de luz

1 comentário:

peter_pina disse...

e nunca percas esse sorriso e esse sol, nem nada do k ali viveste! foi bom! guarda ctg! e agora...rumo à proxima aventura...és um cidadao do mundo, livre!