PRIMEIRO ENCONTRO

Foi há uns anos atrás. Buscávamos alguma coisa? Acho que não. Nós nem gostámos muito um do outro. Ou será que gostamos e não queremos admitir? Não, não gostamos! Tu tinhas ar de pedante e eu de snob. A tua altivez tirava-me do sério. Era de noite e eu tinha acabado de chorar minutos antes, tinha os olhos vermelhos e uma expressão carregada. Caminhaste mais à frente que todos os outros e eu fiquei a admirar a tua figura. Mas nessa noite não era eu que estava apaixonado por ti, era o meu amigo. Ele é que queria que fosses dele. Mas tu não o querias, como nunca quiseste. E isso para ele foi uma facada no peito – mas na semana seguinte já não era por ti que ele estava apaixonado, e na outra semana já era outro e outro. Ele buscava viver o grande amor que todos procuram e nós nem estávamos aí. Nós só queríamos saber de viver mais um dia, de nos divertirmos com as pessoas que nos rodeiam. Tudo o que não queríamos era um relacionamento. Queríamos paz. Cada qual trazia consigo as mágoas do passado e estávamos em período de luto. Irritou-me o facto de não me teres dado atenção e por isso, quando chegámos ao café, sentei-me do teu lado. Tinha de fazer com que reparasses em mim nem que fosse para elevares o meu ego. Mas acho que tiveste a mesma ideia e também te quiseste sentar ao meu lado. Ali estávamos, duas crianças a disputarem a atenção. Nessa altura eu tinha deixado de fumar mas usava uma pulseira da Marlboro que o meu irmão tinha-me dado e foi a partir daí que a conversa começou. Ainda levaste na cabeça por fumares... o que foi ridículo porque mais tarde eu voltara a ser uma chaminé de novo. Eu estava cheio de teorias, ideias e ideias todos trocados e desorganizados, os quais defendia cegamente a pés juntos. Afinal eu era uma criança parva e snob. O meu amigo bem que tentava entrar na conversa mas a nossa conversa não era uma conversa, era uma disputa. Mas essa forma de sermos um com o outro foi o que nos destacou do resto das pessoas. E ao longo dessa noite o sentimento de ódio e desprezo transformava-se em carinho. As pessoas à nossa volta começavam a ser uma mancha esbatida, fosca, embaçada. Não sei se era de sermos muitos à volta de uma mesa pequena mas as nossas pernas insistiam em não se largarem. Ali estavam, colada, passando energia de um corpo para o outro. E quando descemos a rua já não caminhamos afastados mas lado a lado...

5 comentários:

Anónimo disse...

...
C - Sabes, eu já te amava antes de nos termos encontrado pessoalmente.
B - Não digas isso.
C - É verdade. E tu eras tão diferente daquilo que o ...... me tinha dito no CCB. É verdade.
B - Sim... eu acredito. Eu sinto o mesmo.
C - :)
B - E é tão estranho. Não sei explicar.
C - Não é estranho, sente-se. E os sentimentos não se explicam.
B - Mas quando nos conhecemos odiámo-nos.
C - Lol. Sim, eu achei-te insuportável.
B - Pois, eu também te achei. Com aquele casaco preto comprido e o chapéu-de-chuva. A desfilar muito snob na rua. Irritou-me.
C - Mas depois...
B - Depois havia ali qualquer coisa, não era?
C - Era.
B - Olhei-te de uma ponta à outra. Aquela pulseira do Marlboro, a camisa às riscas, e a tua voz. Granda vozeirão. E não queria que te fosses embora. Mas sabia que ias olhar para trás quando entrasses no comboio, olhei mas não te vi olhar.
C - Mas eu olhei e fiquei com raiva porque não te vi olhar a ti.
B - Lol
C - E sabia que ias mandar uma mensagem ainda no comboio e que seria para mim. Os outros dois acharam estranho e sem lógica mas para mim tinha toda.
B - E mandei. Sabes, eu senti que a minha vida ali ia mudar.
C - Eu também. Fiquei tão feliz, nem imaginas. E o sonho da varanda...
B - Por isso já te amava.
C - Eu também.
...

Odiaram-se talvez porque se comportavam da mesma forma. Odiaram-se talvez porque até eram tão parecidos aos olhos de quem observa as atitudes. Odiaram-se porque talvez preferissem odiar para não amar. Para não sentir o que já de antes estavam a sentir (afinal, não podia ser assim tão bom). E talvez antes das pernas se tocarem já soubessem que as suas energias, as suas vidas estariam ligadas para sempre.
Hoje, milhares de kilómetros de mar os separam, cruzam-se nos ecrãs informáticos, não se falam. Mas as energias, o amor, entrelaçam-lhes as mentes, juntam-lhes as almas como se as pernas se estivessem a tocar...naquele bar... naquela varanda de mármore branca.

peter_pina disse...

é tao bom kdo "As pessoas à nossa volta começavam a ser uma mancha esbatida, fosca, embaçada".....

ai ai ai.....

p.p.

margarida disse...

Quando nos vêmos transportados para um passado, um começo de algo é porque de isso precisamos para podermos continuar...resta saber com o quê?

Beijos grandes meu menino***

Ka_Ka disse...

Em qualquer cidade, vila ou aldeia de Portugal a parte velha é sempre mais bonita do que a nova?

Pedro Eleutério disse...

kanoff: isso vai depender do teu gosto pessoal.