ERA A MÃE DELE

Encontrei-te na faculdade. Falámos do coração, de algumas banalidades e da morte da mãe dele. E mais tarde comecei a lembrar-me de me ter cruzado com ele por aí e não ter notado diferença alguma no seu comportamento. Será que ele está a reagir bem ou simplesmente não está a reagir? Eu nem consigo pensar na ideia de a minha mãe morrer – bato três vezes na madeira. Eu sei que os tempos modernos estão cada vez mais acelerados, mais centrados num seguir em frente, mas era a mãe dele! Estará a morte a tornar-se numa coisa tão impessoal? Eu sei que ficaste chocada com toda essa história que soubeste apenas uma semana depois porque nem reparaste que algo de mal se passava. Acho que estamos todos é a ficar doidos. Talvez andem a injectar algum produto químico no mundo que nos anda a alterar as cabeças. Será que as pessoas estão cada vez mais a deixar de pensar nas coisas, a deixar de dar importância às coisas. Ou talvez sejamos nós que pensamos demasiado nas coisas. Eu penso demasiado nas coisas e sei que tu também. Talvez o problema seja mesmo nosso... um compendio emocional cheio de racionalidade embutida. Eu sei que fizemos muitos erros no passado mas é com eles que temos aprendido... mas alguns são difíceis de esquecer e até mesmo de nos perdoarmos a nós mesmos. Talvez ele um dia ele se dê ao luxo de exprimir aquilo que sente, pois não é possível não sentir... o difícil é expressar. Eu sempre te disse que não era bom fechares-te a sete chaves, que não era bom sofreres sozinha, mas sou eu quem continua a cair no mesmo erro. Apontar o dedo? Se eu pequei como atirarei a primeira pedra? Mas porra... era a mãe dele!

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