QUATRO MULHERES E UM SORRISO

Chego ao mundo novo mas visto ao contrário. Olho à minha volta e sou o estranho da minha própria cidade, da minha ex-realidade. Tudo ficou para trás apesar das memórias que guardo desses tempos. É bom estar de volta? É bom estar de volta!... mas nunca com um ponto final. A casa fechada parece ainda o estar, como se tudo tivesse coberto de pó e lençóis brancos. O branco fere-me a vista. Agora é começar a destapar e descobrir as surpresas, apanhar alguns sustos, gritar quando vir alguma aranha – nunca fui muito amigo delas. As aranhas, mesmo as mais pequenas, parecem-me sempre bichos nojentos. Mas não tenho aracnofobia, só mesmo um desconforto profundo. Já dormi algumas noites na minha antiga cama, mas sinto-me desconfortável, falta-me a rede. Ora bolas... será que já não sei dormir numa cama?

Saio à rua. Digo bom dia, não porque sou simpático, mas porque me está na alma sorrir e dizer bom dia. Abro a minha boca toda, mostrando a dentição e as gengivas, devido ao freio ter-se partido quando era criança, no mesmo dia em que rasguei a língua. As pessoas não reagem muito bem a bons dias de sorriso na cara. Talvez sejam os meus dentes que assustam as pessoas. Mas elas já estão assustadas por natureza.

Já na faculdade, para tratar da papelada toda, sou recebido de mau humor pela guarda dentro da secretaria.

- O que é que faz aqui dentro? – a pergunta começou logo por ser estúpida dado o facto da porta estar aberta e das pessoas estarem a ser atendidas – ou você acha que nós não temos direito à hora de almoço. Já não atendemos mais ninguém... pode sair – sempre num tom de imposição para mostrar quem é que ali veste as calças.
- Um bom dia para si também e já agora... podia ter dito tudo isso mas de forma educada e simpática.
- Eu não sou paga para ser simpática!
- Então é paga para ser o quê? Estúpida!

Não gosto nada de reagir assim, mas estas coisas irritam-me! Eu que estou fora há um ano, eu que não sei o horário de almoço da secretaria, eu que nem sequer uso relógio. Eu que entrei, sorri e disse bom dia com toda a boa vontade que me ia na alma. Mais tarde, volto lá para tratar das papeladas e lá está ela a sorrir, com a boca toda, para qualquer pessoa que entrasse de cargo superior a ela. “Estou mesmo de regresso ao meu país”. O resto do dia ando por Lisboa a tratar de burocracias e papeladas de quem esteve fora um ano e quer retomar a vida e nada melhor do que ir à loja do cidadão das Laranjeiras renovar o B.I. Tiro as fotografias com a mulher que está toda divertida a fazer com que as pessoas fiquem bonitas e sorridentes nas fotos – eu só fico bem na segunda tentativa, mas estas modernices de hoje em dia já nos permitem tirar várias fotos e escolher a melhor para ser reproduzida – depois a prestabilidade da mulher das informações que não se cansa de repetir aos atrasados que vinham em busca dos selos do carro “É ao fundo do corredor à direita mas já não estão a distribuir mais senhas por excesso de pessoas, já estão quinhentas na lista de espera para hoje” e sempre de sorriso na cara. Depois a mulher que trata dos meus papeis para o B.I. que se mostra, toda contente, a nova máquina que lhe tinham arranjado para cortas fotografias em um só corte e de sorriso na cara diz-me “Isto agora é muito mais rápido. É só posicionar a foto no melhor enquadramento e clique. Agora vamos à impressão digital” e não se cansa de sorrir como se eu fosse o primeiro cliente que lhe estivesse a aparecer à frente naquele dia. Tudo isto faz-me relaxar... cheguei ao meu país mas ainda há esperança. Basta só seguir as instruções: Sorria do fundo da alma, não mostre só um pouco dos dentes, mostre todos!

SEGUNDA PARTE




FIM DA PRIMEIRA PARTE
"MUITOS MARLBOROS E 14 VIAGENS DE AVIÃO"

PERCORRI O MEU CAMINHO...

Parou, voltou a olhar para trás mais uma vez, eles continuavam lá, todos eles. "Se ao menos tivesse a máquina fotográfica à mão", pensou. Mas aquela imagem ficaria eternamente na sua memória e não seria a falta de uma fotografia que a iria apagar. Sorriu juntamente com as lágrimas que lhe escorriam no rosto. Mostrou o passaporte e o bilhete de avião, fez a curva e deixou de os ver... e caminhou até ao portão C...

And now, the end is here
And so I face the final curtain
My friend, I'll say it clear
I'll state my case, of which I'm certain
I've lived a life that's full
I traveled each and ev'ry highway
And more, much more than this, I did it my way

Regrets, I've had a few
But then again, too few to mention
I did what I had to do and saw it through without exemption
I planned each charted course, each careful step along the byway
And more, much more than this, I did it my way

Yes, there were times, I'm sure you knew
When I bit off more than I could chew
But through it all, when there was doubt
I ate it up and spit it out
I faced it all and I stood tall and did it my way

I've loved, I've laughed and cried
I've had my fill, my share of losing
And now, as tears subside, I find it all so amusing
To think I did all that
And may I say, not in a shy way,
"Oh, no, oh, no, not me, I did it my way"

For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught
To say the things he truly feels and not the words of one who kneels
The record shows I took the blows and did it my way!

(Sentou-se no seu lugar no avião e esperou que este o levasse de volta...)

Yes, it was my way

HÁ DIAS...

Podes ficar doente a vida inteira. Aliás, tens tantos dias para ficar doente. Mas ficas sempre doente naqueles dias em que não precisavas, em que não querias, em que não podias, em que era desnecessário. Talvez sejamos nós que nos adoecemos a nós mesmos. Talvez seja esta vontade de não ir embora que me tenha feito pegar esta gripe de última hora. Uma gripe que me diz para ficar na cama, para não sair de casa, para não sair do pais. Fica! – grita a gripe desesperada. “Há dias em que não cabes na pele com que andas”.

E como se não bastasse a gripe, começam os problemas das compras de última hora, para as quais não tenho a mínima paciência, muito menos gripado, as malas por fazer... será que cabe tudo? O que vou deixar para trás! E pergunto-me sempre com o que irão implicar as mulheres do aeroporto, sim, porque a mim calham-me sempre mulheres e nunca as simpáticas. Passo o dia a morrer de calor e a suar por todos os poros, confundo os suores frios com os suores naturais desta temperatura. Corro de um lado para o outro para ver se o meu corpo anima, canto, cantar é bom, revitaliza a alma. O meu nariz parece uma torneira. A voz sai nasalada, ainda bem que canto só para mim! Passo o dia a beber água e sucos e ora tenho fome ora não tenho. E falta cá a mãe para os tempos de doença... ela sabe sempre o que fazer. “Há dias em que não cabes na pele com que andas”.

Começo a pensar em tudo ao mesmo tempo e acabo por não pensar em nada. Tento não fumar para ver se isto melhora. Mas sempre que o nariz se mostra mais limpinho e a garganta afinada lá vai mais um cigarro. Olho a água da beira mar e canto para mim:

É mar, é sol, é o fim do caminho
Perdido neste olhar, fico um pouco sozinho
Foram horas de riso, horas de prazer
Conversas, histórias, para não esquecer
Goiaba, graviola, abacaxi, açaí
Uma água de coco, p’ra beber por aí

Vivi de tudo um pouco, e de tudo aprendi
Alegria, dor, sempre cantando feliz
Faz um vento ventado na beira-mar
Sempre vozes gritando: você quer comprar!
É a chuva chovendo, numa noite estrelada
Relembro as memórias da vida passada

Café, cigarro, uma mesa, um bar
É conversa que vem, é conversa que vai
É amor, é paixão, é saudade e então?
Vai ficar mais um marco no meu coração!

*ao som de "Águas de Março"

A BOLA DE NEVE

Sempre fui um bom ouvinte. Tem dias que estou sem cabeça e mesmo assim ouço. As pessoas precisam de falar, mesmo aquilo que sabem que ninguém quer ouvir. Também sou um bom falador, não nego, mas com o tempo fui levado a medir mais as palavras. Diziam que eu era sincero demais ao ponto de ser incomodativo e por vezes grosseiro. Sim, posso dizer que cheguei a ser mesmo muito grosseiro. Não pensava na diferença entre dizer uma verdade e um magoar. Achava que os outros quando me pediam opiniões queriam a minha sinceridade. E eu cheguei a ser cruelmente sincero (as vezes ainda sou, para aqueles que mais amo, não me perguntem porquê). E nas voltas da vida dei por mim, muitas vezes, calado. Queria dizer o que achava e acabava por pensar: “É melhor não, pensa bem antes de falares”. E de tanto racionalizar as minhas palavras fui perdendo a capacidade de dizer o que realmente pensava. Cheguei mesmo a ter momentos em que queria falar e a voz simplesmente não saia, travava, engolia em seco e acabava por odiar-me por dentro. Odiava-me por pensar que em tempos teria dito sem qualquer hesitação. Passei por um período do oito ao oitenta.

Hoje em dia já não sinto ódio, voltei a conseguir falar de forma mais fluida mas com uma maior consciência natural. Acima de tudo aprendi a não me enganar a mim mesmo. A verdade de um pensamento começa quando não o aldrabamos para nós mesmos. Mas a verdade, inevitavelmente, magoa. E nós somos os primeiros a ser atingidos por ela. E, em segundo plano, somos atingidos ao ser verdadeiros com o próximo (As pessoas precisam de falar, mesmo aquilo que sabem que ninguém quer ouvir), porque queremos dizer o que pensamos, o que sentimos e ao mesmo tempo temos medo. Medo das suas reacções, medo de os magoar, medo de nos magoar. Quantas vezes já não pensei e não passei pela velha crise de: “Eles não entendem o que quero dizer, não me percebem, deturpam o que eu sinto ao olhos do que eles sentem.” E aprendi que nada podemos fazer contra isso. Porque a forma como vemos as coisas far-nos-á sempre mais sentido. Sentido, porque é como sentimos. Sentido, porque é como aprendemos a experienciar. Sentido, porque são os nossos olhos agarrados à nossa consciência.

Apercebi-me, por ouvir várias pessoas, de diferentes idades, diferentes géneros e diferentes estares na vida, que existe uma global tristeza do não entendimento. Cada vez mais tem-se medo de ser. Cada vez mais tem-se medo de sentir. Cada vez mais tem-se medo de errar. E quando se erra as pessoas conseguem ser muito cruéis umas para as outras. Se eu contasse os desabafos que tenho ouvido de pessoas que nunca ninguém imaginou sentirem-se assim, perceber-se-ia o estado grave da situação. As cabeças cheias de regras, de sonhos americanos, de filmes românticos, nem param para pensar no que realmente sentem. Simplesmente desejam viver aquelas histórias, desejam alcançar aquilo que lhes é vendido como o perfeito, o que trará a felicidade. Mas quando efectivamente param para pensar no que realmente sentem... assustam-se. E começam as depressões, as idas ao psicólogo, os maus humores, as caras deixam de sorrir, os corações deixam de brilhar e pensam: “Se ao menos eu conseguísse viver um pouco daquelas histórias...” e entram no processo de loucura de manicómio. E quando se olha à volta estão todos doidos em busca de uma mesma coisa que não existe... e que, quando existe é por breves instantes, como nicotina injectada, como uma droga de efeito rápido. E as pessoas sentem que tiveram um pouco daquilo e querem mais. E ao invés de serem felizes numa equação (mais ou menos) constante, deixam-se cair na infelicidade pontuada por momentos em que se drogam um pouco mais dessa felicidade relâmpago.

Depois de ler os livros do Saramago, referentes aos caóticos mundos cegos, lúcidos e eternos, tentei imaginar um mundo onde só fosse possível agir-se sendo realmente verdadeiro consigo mesmo. E esse mundo virou caótico também pela não capacidade que o Homem tem de aceitar e conviver com aquilo que lhe é diferente. E eu não sou excepção. Muitas vezes não consigo aceitar certas coisas. E quando digo que não consigo aceitar, digo mesmo no sentido de não conseguir tolerar, de me dar raiva, de me meter nojo. (Existem casos e casos. Não estou aqui a falar que seja aceitável um Homem matar outro Homem, um homem maltratar uma mulher, alguém que bate noutra pessoa por puro prazer, disso devíamos todos ter nojo, mas não falo dessas coisas, esse seria um outro assunto, um outro texto). Todos acabamos por ser, mesmo que em pequenas coisas, preconceituosos, racistas, xenófobos. Mas como podemos amar e aceitar o próximo sem que nos amemos e aceitemos a nós? E como fica perceptível, tudo não passa de uma gigante bola de neve, um ciclo vicioso. Pergunto-me quando virá o dia em que saberemos conviver com a ideia de que a nossa verdade nem sempre é a verdade do outro, que o nosso certo e errado não é o certo e o errado do outro, que podemos conviver com isso, lidar com isso, encarar isso. É claro que vão dizer que sim, que sabem conviver com essas diferenças se não estariam sozinhos. Mas é fácil conviver com as “pequenas diferenças” das pessoas que nos fazemos rodear. O difícil é conviver com “as grandes diferenças” daqueles que cruzam por nós no dia-a-dia. E é natural que nos afastemos daqueles que pouco têm a ver connosco. Mas uma coisa é não conviver no nosso circulo pessoal, outra coisa é desprezar, odiar, ridicularizar tudo aquilo que soa a diferente demais do que é a nossa linha de pensamento. E aí sim, e sem que nos apercebamos, vamos estar a ser cruéis, vamos pôr muitas cabeças em duvida daquilo que sentem, porque nem toda a gente tem força para manter um credo, para afirmar-se. E acabam por se calar, por guardar para si medos, duvidas, rancores à vida, inseguranças até que explodem. Se ao menos elas pudessem expressar aquilo que sentem...

O que escrevi deixa-me a pensar que tenho de começar a olhar mais pelos outros, que tenho ainda muito trabalho a fazer em mim, na minha cabeça, na minha forma de pensar e de ver as coisas e que ainda tenho muito que aprender. Olho para cima e vejo que topo da montanha está alto, mas se nunca começar a subir ele estará sempre alto e eu no mesmo lugar.

*

Vou repassar a aqui a letra do Hey You. Acho que se queremos mudar o mundo, pensando nas questões ambientais, como foi o propósito do Live Earth, das questões da Guerra, como foi o Live Eight, das questões da pobreza, como foi o Live Aid, temos de começar mesmo por mudar a forma como nos olhamos e olhamos o próximo (o melhor ensinamento que aprendi nos meus tempos de igreja, e que me dei mal na vida sempre que o desrespeitei). A letra do Hey you é realmente impressionante por toda a sua mensagem, por ser mais do que uma simples letra a dizer “vamos salvar o planeta”.

“Hey you, don't you give up, it's not so bad, there's still a chance for us. Hey you, just be yourself, don't be so shy, there's reasons why it's hard. Keep it together, you'll make it alright. Our celebration is going on tonight. Poets and prophets will envy what we do. This could be good, hey you! Hey you, open your heart, it's not so strange, you've got to change this time. Hey you, remember this, none of it's real including the way you feel. Keep it together, we'll make it alright. Our celebration is going on tonight. Poets and prophets will envy what we do this could be good, hey you. Save your soul, little sister. Save your soul, little brother. Hey you, save yourself, don't rely on anyone else. First love yourself, then you can love someone else. If you can change someone else, then you have saved someone else. But you must first love yourself, then you can love someone else. If you can change someone else, then you have saved someone else. Hey you, there on the fence, you've got a choice one day it will make sense. Hey you, first love yourself, or if you can't, try to love someone else. But you must first love yourself, then you can love someone else”

Madonna, Hey You, Live Earth

SE ELA CANTA EU CANTO

Fico pasmado a olhar para ela, a contemplar o seu sorriso enquanto canta para mim. Na verdade ela não canta para mim, nem sabe quem eu sou, mas eu gosto de acreditar que sim, que é para os meus olhos que ela olha enquanto actua, enquanto procura conforto na plateia, não que ela precise desse conforto. E ali estou, simplesmente fascinado pela sua voz, pela sua presença, pela sua essência. Desejo subir ao palco e juntar-me a ela, mas esse não é o meu lugar, talvez um dia seja. E o palco aí será só nosso, e perder-nos-emos de todos e tudo o resto deixará de fazer sentido. Estaremos embrenhados nas nossas próprias emoções. Mas primeiro tenho de aprender a cantar.

Lista de afazeres:
1. Aulas de canto

AINDA NÃO!

Tenho de me sentar e escrever...

Os dias, ao mesmo tempo que parecem intermináveis, são tão curtos quanto o tempo de inspirar e expirar. No decorrer do seu tempo giro na roda das emoções, altos e baixos, constantes e inconstantes sensações, perturbações, impressões, comoções. Tem horas em que as lágrimas querem sentir-se bem vidas aos meus olhos, mas não as deixo passar na porta. Mantenho-as trancadas, veladas em mim mesmo, pois só eu saberei o que elas querem dizer.

Saio à rua todo o dia, várias vezes ao dia, preciso de sentir o sol a variadas horas. As brisas também mudam consoante a melodia que escuto nas minhas caminhadas. Tento não escutar aquelas musicas, aquelas! Mas acabo por trautear um verso e já não consigo impedir. As letras escorrem-me no cérebro, as palavras amargas, saudosas, reconfortantes, desconfortantes.

Começo a despedir-me de algumas pessoas. Já não as vou ver mais! E nunca essa ideia me assustou tanto como agora. Já me despedi de muita gente que não ia ver mais, já disse muitos adeus, mas este é um adeus oceânico, um adeus pesaroso, um adeus longo e distante. E mais uma vez ainda não chorei. Para dizer a verdade os meus olhos não sabem o que é uma lágrima há bastante tempo. A fonte secou. E isso não quer dizer que não tenha motivos para chorar. É fisiológico!

Comecei a viver aquilo a que chamo de os últimos dias. O último domingo, a última segunda-feira, a última terça-feira... e não me apetece viver como se fossem os últimos dias. Quero vivê-los como se aqui fosse ficar. Pois os outros não entendem o que é voltar a deixar tudo. E a melhor forma de não sentir esse nó estomacal é esquecer que são os últimos, é viver como se no próximo domingo, na próxima segunda ainda aqui estivesse. É viver como todos aqueles que me rodeiem vivem o seu dia-a-dia. Ninguém precisa de deixar nada para viver os meus últimos dias. É mais saudável, mais natural, menos pesaroso. Assim sempre dá a ideia de que não vai acabar.

A LOIRA E O PORTUGUÊS in HELL CITY

- O meu pai enganava-me quando eu era criança. Ele fez-me acreditar que dentro das caixas multibanco trabalhavam anões a contar o dinheiro que nós pedíamos.
- Seu pai era muito engraçado! Giro, muito giro... cá cá cá cá *

Mais tarde... (troca de turno)

- Porque é que não tá a dar?

*Como os brasileiros riem e giro foi a palavra que eu lhes ensinei...

A LOIRA E O PORTUGUÊS in HELL CITY

- Manda parar!
- É p'ra parar
- Esse não! Não vês que vai muito cheio? Manda parar outro...

A LOIRA E O PORTUGUÊS in HELL CITY

- Desculpe, mas não pode entrar de bermudas.
- Você tem noção do puta calor que 'tá na rua senhora-eu-passo-o-dia-no-ventilador?

(O que vale é que saíste rápido da entrevista. Esta gente não entende nada de moda!)



A ESCALADA

Olha para cima e tenta perceber qual é o melhor caminho para escalar a parede. “Se eu começar pela esquerda e a meio mudar-me para a direita pode ser que consiga chegar até àquela pedra”, pensou. Fixou as mãos, colocou o primeiro pé e deu início à subida. No início tudo pareceu fácil, até que a parede começou a inclinar. E este foi só o primeiro obstáculo. Mas lá resolveu o problema e continuou a subir. Mais à frente as pedras começaram a ficar mais pequenas e os apoios mais escassos. “É agora que tenho de mudar-me para a direita”, pensou. Lentamente foi trocando a sua posição. Conseguiu novamente um lugar seguro, desta vez à esquerda. Olhou para cima e viu que a parede era paralela ao chão... e agora? “Como vou fazer para subir até à parte em que a parede fica de novo vertical?”, pensou. Deixou ali ficar-se um pouco naquele lugar seguro, estudando as possibilidades e dando algum descanso aos seus músculos, ia precisar deles. “Ok. Agora só preciso alcançar a pedra amarela com a mão direita e a cinzenta com a esquerda.” Lá em baixo gritavam para ele subir os pés. “Como é que eu subo os pés?”, pensou. Com algum esforço lá se agarrou à pedra amarela, depois à cinzenta e o seu corpo estava paralelo ao chão, já conseguia ver a parede vertical. Agora é só usar os braços. Alcançou uma pedra dessa parede vertical, mais outra... e estava pendurado. “Agora é força de braços. Vai... eleva-te”, pensou. Começou a fazer força para subir e sentiu as mãos escorregar. “Tu aguentas! É só mais um pouco...”, pensava... e as mãos lentamente começaram a afrouxar e a afrouxar e quando deu por si estava de novo no chão.

Olhou para cima e pensou, “Eu vou conseguir escalar-te, um dia... nada é impossível”.

QUINZE DIAS

Em Portugal estamos a chegar ao Verão. As pessoas começam a pensar em ir de férias, muitas viagens já estão marcadas, muitos até já regressaram. Os períodos variam, mas as pessoas só querem libertar-se um pouco da sua realidade e conhecer outras paragens. Quinze dias. Esse é o tempo que as pessoas precisam para recarregar as baterias. Quinze belos dias passados numa praia, a visitar uma ou várias cidades, ou mesmo vividos na própria cidade tendo mais tempo para fazerem as coisas de que mais gostam. E a esses são chamados os bem ditos quinze dias do ano.

E a mim, que só me faltam quinze dias para partir. Quinze dias que vão parecer um inferno, que vão passar em quinze segundos. Que vai parecer que é já amanhã. Quinze dias para as despedidas, para as últimas visitas, para os últimos olhares. Quinze dias em que vou estar a acabar projectos da faculdade, em que vou estar a organizar as malas, em que me vou preparar para dizer adeus. Nunca pensei que este dia chegasse tão rápido. Parece quase como uma data de entrega... se ao menos tivesse mais um dia! Mas iria estar a pedir sempre esse dia a mais cada vez que chegasse ao novo prazo. Quinze dias e já cá não estou. Quinze dias é o prazo. Um prazo sem possível adiamento. Um prazo que vai deixar muitas saudades...

MARTE

De todos os planetas, Marte sempre foi o que mais me fascinou. Talvez pela sua cor, talvez por estar mais perto, talvez porque o possa ver às vezes quando olho para o céu. E mesmo que não o veja eu sei que ele está lá. Sei que existe pendurado no universo, a boiar junto com os outros planetas. Mas os outros não me fascinam tanto como Marte. Pergunto se será possível, um dia, aterrar lá, pisar Marte e fazer parte de Marte.

Não me interessa o que os outros dizem, mas eu vou a Marte. E esta não foi uma decisão. O destino é esse, sempre o foi. E não posso fugir das coisas a que estou destinados. E eu fui destinado a Marte. Será que vou conseguir sobreviver quando lá chegar? Ou simplesmente ficarei com falta de ar e no seu solo morrerei. Não sei como vai ser, mas eu vou a Marte.