Chego ao mundo novo mas visto ao contrário. Olho à minha volta e sou o estranho da minha própria cidade, da minha ex-realidade. Tudo ficou para trás apesar das memórias que guardo desses tempos. É bom estar de volta? É bom estar de volta!... mas nunca com um ponto final. A casa fechada parece ainda o estar, como se tudo tivesse coberto de pó e lençóis brancos. O branco fere-me a vista. Agora é começar a destapar e descobrir as surpresas, apanhar alguns sustos, gritar quando vir alguma aranha – nunca fui muito amigo delas. As aranhas, mesmo as mais pequenas, parecem-me sempre bichos nojentos. Mas não tenho aracnofobia, só mesmo um desconforto profundo. Já dormi algumas noites na minha antiga cama, mas sinto-me desconfortável, falta-me a rede. Ora bolas... será que já não sei dormir numa cama?
Saio à rua. Digo bom dia, não porque sou simpático, mas porque me está na alma sorrir e dizer bom dia. Abro a minha boca toda, mostrando a dentição e as gengivas, devido ao freio ter-se partido quando era criança, no mesmo dia em que rasguei a língua. As pessoas não reagem muito bem a bons dias de sorriso na cara. Talvez sejam os meus dentes que assustam as pessoas. Mas elas já estão assustadas por natureza.
Já na faculdade, para tratar da papelada toda, sou recebido de mau humor pela guarda dentro da secretaria.
- O que é que faz aqui dentro? – a pergunta começou logo por ser estúpida dado o facto da porta estar aberta e das pessoas estarem a ser atendidas – ou você acha que nós não temos direito à hora de almoço. Já não atendemos mais ninguém... pode sair – sempre num tom de imposição para mostrar quem é que ali veste as calças.
- Um bom dia para si também e já agora... podia ter dito tudo isso mas de forma educada e simpática.
- Eu não sou paga para ser simpática!
- Então é paga para ser o quê? Estúpida!
Não gosto nada de reagir assim, mas estas coisas irritam-me! Eu que estou fora há um ano, eu que não sei o horário de almoço da secretaria, eu que nem sequer uso relógio. Eu que entrei, sorri e disse bom dia com toda a boa vontade que me ia na alma. Mais tarde, volto lá para tratar das papeladas e lá está ela a sorrir, com a boca toda, para qualquer pessoa que entrasse de cargo superior a ela. “Estou mesmo de regresso ao meu país”. O resto do dia ando por Lisboa a tratar de burocracias e papeladas de quem esteve fora um ano e quer retomar a vida e nada melhor do que ir à loja do cidadão das Laranjeiras renovar o B.I. Tiro as fotografias com a mulher que está toda divertida a fazer com que as pessoas fiquem bonitas e sorridentes nas fotos – eu só fico bem na segunda tentativa, mas estas modernices de hoje em dia já nos permitem tirar várias fotos e escolher a melhor para ser reproduzida – depois a prestabilidade da mulher das informações que não se cansa de repetir aos atrasados que vinham em busca dos selos do carro “É ao fundo do corredor à direita mas já não estão a distribuir mais senhas por excesso de pessoas, já estão quinhentas na lista de espera para hoje” e sempre de sorriso na cara. Depois a mulher que trata dos meus papeis para o B.I. que se mostra, toda contente, a nova máquina que lhe tinham arranjado para cortas fotografias em um só corte e de sorriso na cara diz-me “Isto agora é muito mais rápido. É só posicionar a foto no melhor enquadramento e clique. Agora vamos à impressão digital” e não se cansa de sorrir como se eu fosse o primeiro cliente que lhe estivesse a aparecer à frente naquele dia. Tudo isto faz-me relaxar... cheguei ao meu país mas ainda há esperança. Basta só seguir as instruções: Sorria do fundo da alma, não mostre só um pouco dos dentes, mostre todos!
Saio à rua. Digo bom dia, não porque sou simpático, mas porque me está na alma sorrir e dizer bom dia. Abro a minha boca toda, mostrando a dentição e as gengivas, devido ao freio ter-se partido quando era criança, no mesmo dia em que rasguei a língua. As pessoas não reagem muito bem a bons dias de sorriso na cara. Talvez sejam os meus dentes que assustam as pessoas. Mas elas já estão assustadas por natureza.
Já na faculdade, para tratar da papelada toda, sou recebido de mau humor pela guarda dentro da secretaria.
- O que é que faz aqui dentro? – a pergunta começou logo por ser estúpida dado o facto da porta estar aberta e das pessoas estarem a ser atendidas – ou você acha que nós não temos direito à hora de almoço. Já não atendemos mais ninguém... pode sair – sempre num tom de imposição para mostrar quem é que ali veste as calças.
- Um bom dia para si também e já agora... podia ter dito tudo isso mas de forma educada e simpática.
- Eu não sou paga para ser simpática!
- Então é paga para ser o quê? Estúpida!
Não gosto nada de reagir assim, mas estas coisas irritam-me! Eu que estou fora há um ano, eu que não sei o horário de almoço da secretaria, eu que nem sequer uso relógio. Eu que entrei, sorri e disse bom dia com toda a boa vontade que me ia na alma. Mais tarde, volto lá para tratar das papeladas e lá está ela a sorrir, com a boca toda, para qualquer pessoa que entrasse de cargo superior a ela. “Estou mesmo de regresso ao meu país”. O resto do dia ando por Lisboa a tratar de burocracias e papeladas de quem esteve fora um ano e quer retomar a vida e nada melhor do que ir à loja do cidadão das Laranjeiras renovar o B.I. Tiro as fotografias com a mulher que está toda divertida a fazer com que as pessoas fiquem bonitas e sorridentes nas fotos – eu só fico bem na segunda tentativa, mas estas modernices de hoje em dia já nos permitem tirar várias fotos e escolher a melhor para ser reproduzida – depois a prestabilidade da mulher das informações que não se cansa de repetir aos atrasados que vinham em busca dos selos do carro “É ao fundo do corredor à direita mas já não estão a distribuir mais senhas por excesso de pessoas, já estão quinhentas na lista de espera para hoje” e sempre de sorriso na cara. Depois a mulher que trata dos meus papeis para o B.I. que se mostra, toda contente, a nova máquina que lhe tinham arranjado para cortas fotografias em um só corte e de sorriso na cara diz-me “Isto agora é muito mais rápido. É só posicionar a foto no melhor enquadramento e clique. Agora vamos à impressão digital” e não se cansa de sorrir como se eu fosse o primeiro cliente que lhe estivesse a aparecer à frente naquele dia. Tudo isto faz-me relaxar... cheguei ao meu país mas ainda há esperança. Basta só seguir as instruções: Sorria do fundo da alma, não mostre só um pouco dos dentes, mostre todos!
4 comentários:
Não percebi as 4 mulheres. Sò contei duas. Eu sinto o mesmo quando vou a Lx. é como se "casa" não fosse um lado nem o outro!
abraço
quer dizer que eu vou ter que sorrir e mostrar meu dente da madonna?!
hummm
hehhe
muitos sorriso pra vc amor, vc merece.
beijoo
Para gemini:
as quatro mulheres são: A mulher guarda da secretaria, a mulher das fotografias, a mulher das informações e a mulher que me tratou dos papeis do B.I.
abraço e boa continuação de férias
Portugueses no seu melhor.
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