WELCOME HOME

Abro a porta de casa às apalpadelas, não há luz no prédio, o que me demora um certo tempo. Quando entro deparo-me com o cenário que deixei, uma casa cheia de coisas espalhadas, outras por arrumar. É como andar pelos destroços de uma cidade aniquilada. Já só se podem encontras as memórias do que em tempos foi. Tento perceber o que ainda posso aproveitar. Passo pelos corpos mortos, alguns gravemente feridos, mas poucos são os que ainda vivem. Adorava ter uma placa a dizer “Welcome Home” mas nada mais vejo do que restos de coisas que em tempos foram alguma coisa. No estado em que estão já não fazem sentido. Agora, só servem para contar histórias do passado. Todas aquelas histórias que sei de cor e salteado ao ponto de poder fazer visitas guiadas que durariam dias infindos. Acabo por fazer essas visitas guiadas a mim mesmo, guiando-me pelo que, em tempos, foi a minha vida. E é engraçado analisar como uma vida pode ser encaixotadas, empilhada, transportada em malas de um lado para o outro. E tudo isso podemos deitar fora ao ponto de tornar escassos os pensamentos sobre ela. Mas a nossa memória não possui uma lixeira como os computadores, não podemos simplesmente mandar esvaziar – para o bem e para o mal – e acabamos por armazenar tudo nem que seja no buraco mais refundido e escuro fechado num cofre do qual deitamos a chave fora. Mas chega sempre o dia em que, por acaso, encontramos a chave e instintivamente abrimos esse cofre. E em vez de um “Welcome Home” temos um “Welcome to the things you don’t want to remember”. O que me pergunto é... será que nos queríamos efectivamente esquecer? Ou... que mal tem em lembrar? E só quando abro todos os cofres por completo é que me apercebo que à minha porta tenho um “Welcome Home”.

2 comentários:

Anónimo disse...

não tem nada melhor que começar uma vida nova arrumando a casa! agora toda essa cidade destruída, queimada e cheia de poeira vai ter que sofrer um furacão arrasador e começar do zero!

você deveria comprar vassouras novas!

Anónimo disse...

O Pedro perdeu algo mto importante na sua vida n perdeu? Vejo q sim. Lamento.