Fico sentado naquela casa que é a minha. Observo as coisas à minha volta e, apesar de algumas divisões ainda estarem uma confusão, já a começo a sentir como se fosse o meu espaço. Ainda precisa de algumas mudanças mas o tempo que disponho não é muito. Abraço-me na condição de solitário sem qualquer mágoa embutida, sinto o meu corpo e isso chega-me para que me sinta vivo.
Na condição de morto está o dia do meu funeral, que nesta altura do ano seria despropositado de fidelidade amistosa. Tenho de uma vez por todas deixar de acreditar que D. Sebastião ainda vai voltar e assim deixo de sentir qualquer apreço pelos dias de nevoeiro. É Inverno e está um calor de morte. O que se passa com o tempo? A viagem parece não estar terminada. Falta aquele gostinho do frio matinal, do cheiro do inverno, da luz romba.
Dobro-me junto a cama, levanto um pouco o colchão e apercebo-me da quantidade de pó que por ali anda. É preciso limpar. É sempre preciso limpar o pó que se acumula debaixo da cama. Os restos de vida que vamos deixando de lado, que vamos esquecendo até se tornarem pó. Afinal, no fim, todos somos pó.
- Estão a gostar da noite? Estão a divertir-se?
- Estamos, não te preocupes!
- Gosto de ver as pessoas felizes...
Se ao menos fizessem um sorriso para o demonstrar. Tudo é tão artificial. Desespero por aquele abraço que me transmite a verdade, mas ficamos todos pelos sorrisos de esguelha e os olhares de um outro tempo. Dói-me o peito, uma picada aguda, talvez ir ao médico deva ajudar!
Sentas-te ao meu lado. Sei que vens com boas intenções, eu é que não estou para aí virado. Estou mais intencionado em acabar o meu cigarro e cheirar a noite. Hoje o céu está limpo e aqui ainda é possível ver as estrelas no céu com clareza. Mas podes ficar, em silencio, a apreciar tudo isto comigo. Sei que tens estado ao meu lado, mas ainda não és aquela pessoa para quem vou ligar quando estiver deprimido. Não és tu nem ninguém.
Acordo e ainda é de noite. Merda! A questão é que já é de noite e o meu dia foi perdido. A casa continua no mesmo lugar apenas está virada do avesso. É preciso calçar as luvas de borracha e dar uma volta a isto tudo. Tinhas ficado de me ligar mas ainda não o fizeste. Por outro lado ainda bem, não tenho vida para isto. E digo isto sem saber quais são os teus propósitos, mas quaisquer que sejam sei que são diferentes dos meus.
Os dias são compridos. Faço demasiadas coisas para apenas vinte e quatro horas, mas quando dou por mim já passou uma semana e outra e apenas parece que só tenho mais trabalho e a nível de produção nada! Queria poder mandar o meu patrão para o outro lado, mas há momentos da nossa vida em que não podemos desistir assim. Há que enfrentar as feras. Quanto aos outros empregados há que continuar a sorrir-lhes e faze-los pensar que está tudo bem. Mesmo que um meteorito tenha aterrado mesmo em cima da casa e esta esteja num estado tão lastimoso que seja impossível viver. Mas está sempre tudo bem! E com um sorriso estampado na cara passo por todos eles para me dirigir ao carro, entrar nele e fazer mais uma viagem de regresso a casa sem o rádio ligado por puro esquecimento. Tenho tantos pensamentos ao mesmo tempo que nem me dou conta do silêncio.
Na condição de morto está o dia do meu funeral, que nesta altura do ano seria despropositado de fidelidade amistosa. Tenho de uma vez por todas deixar de acreditar que D. Sebastião ainda vai voltar e assim deixo de sentir qualquer apreço pelos dias de nevoeiro. É Inverno e está um calor de morte. O que se passa com o tempo? A viagem parece não estar terminada. Falta aquele gostinho do frio matinal, do cheiro do inverno, da luz romba.
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Dobro-me junto a cama, levanto um pouco o colchão e apercebo-me da quantidade de pó que por ali anda. É preciso limpar. É sempre preciso limpar o pó que se acumula debaixo da cama. Os restos de vida que vamos deixando de lado, que vamos esquecendo até se tornarem pó. Afinal, no fim, todos somos pó.
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- Estão a gostar da noite? Estão a divertir-se?
- Estamos, não te preocupes!
- Gosto de ver as pessoas felizes...
Se ao menos fizessem um sorriso para o demonstrar. Tudo é tão artificial. Desespero por aquele abraço que me transmite a verdade, mas ficamos todos pelos sorrisos de esguelha e os olhares de um outro tempo. Dói-me o peito, uma picada aguda, talvez ir ao médico deva ajudar!
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Sentas-te ao meu lado. Sei que vens com boas intenções, eu é que não estou para aí virado. Estou mais intencionado em acabar o meu cigarro e cheirar a noite. Hoje o céu está limpo e aqui ainda é possível ver as estrelas no céu com clareza. Mas podes ficar, em silencio, a apreciar tudo isto comigo. Sei que tens estado ao meu lado, mas ainda não és aquela pessoa para quem vou ligar quando estiver deprimido. Não és tu nem ninguém.
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Acordo e ainda é de noite. Merda! A questão é que já é de noite e o meu dia foi perdido. A casa continua no mesmo lugar apenas está virada do avesso. É preciso calçar as luvas de borracha e dar uma volta a isto tudo. Tinhas ficado de me ligar mas ainda não o fizeste. Por outro lado ainda bem, não tenho vida para isto. E digo isto sem saber quais são os teus propósitos, mas quaisquer que sejam sei que são diferentes dos meus.
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Os dias são compridos. Faço demasiadas coisas para apenas vinte e quatro horas, mas quando dou por mim já passou uma semana e outra e apenas parece que só tenho mais trabalho e a nível de produção nada! Queria poder mandar o meu patrão para o outro lado, mas há momentos da nossa vida em que não podemos desistir assim. Há que enfrentar as feras. Quanto aos outros empregados há que continuar a sorrir-lhes e faze-los pensar que está tudo bem. Mesmo que um meteorito tenha aterrado mesmo em cima da casa e esta esteja num estado tão lastimoso que seja impossível viver. Mas está sempre tudo bem! E com um sorriso estampado na cara passo por todos eles para me dirigir ao carro, entrar nele e fazer mais uma viagem de regresso a casa sem o rádio ligado por puro esquecimento. Tenho tantos pensamentos ao mesmo tempo que nem me dou conta do silêncio.
4 comentários:
Vários pequenos textos que transmitem uma tristeza profunda. Falta de amizade, falta de amor.
Não deixes de acreditar que o D.Sebastião vai voltar, se quiseres ele volta, é questão de querer.
Por muito que limpemos há sempre pó nas nossas casas.
Ele ficou de ligar e não ligou, liga tu. Não devemos deixar nunca de ligar, de expressar os nossos sentimentos.
Não percebi o específico, mas identifiquei-me com o geral. Já escrevi assim, mas ninguém percebia que, certas coisas, eu só conseguia dizer pela metade.
Continua que eu leio e apoio. Mesmo que não perceba, sinto (claro que, nada me impede se sentir algo que não tenha nada a ver com o que escreveste, LOL).
está sempre tudo bem, mesmo quando não o está e estará melhor quando todo o pó debaixo da cama desaparecer...em breve, muito em breve, mas demora tempo e o tempo desenha um sorriso inspirado nos anos 80...para ti!
Após algum tempo de ausência reparo que manténs a tua caneta em forma.
Um abraço
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