Lá fora a chuva caía torrencialmente e um barulho ensurdecedor entrava pela janela do seu quarto. A noite já estava posta e os candeeiros da rua comprida estavam mais uma vez iluminados para dar um sentido àquela vista. Mais um dia de Inverno de calor infernal. Naqueles lados o Inverno virava inferno. E nada mais havia a fazer que refrescar a sua boca em água gelada e acreditar que uma brisa iria correr. Naquela noite tinha-se deliciado com corações de galinha e macarrão instantâneo com sabor a camarão – devaneios de cozinheiro desajeitado e autodidacta. Estava a tentar deixar de roer as unhas, mas a cada momento em que olhava para o lado dava por si com os dentes raspando mais um bocado de uma unha. Não tinha jeito. Era o stress do dia-a-dia, da vida, da sua cabeça. Se as unhas reflectissem o seu pensamento... estava decerto bem escavacado, torturado, com um aspecto medonho. Estava na hora de melhorar a situação. Sempre acreditou que o corpo de uma pessoa conta a história da sua vida, algumas coisas reflectem o passado, outras o presente e há quem diga que na palma das nossas mãos se encontra o futuro. Mas se o futuro fosse assim tão gratuito qual seria a piada da vida? A diferença seria na troca das angustias. Hoje angustiados pelo desconhecido, amanhã pelo conhecido. Venha o diabo e escolha o melhor. Futuros à parte... o presente continua a acontecer.
2024 / 10 filmes [2]
Há 2 horas
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