PORQUE É QUE AINDA NOS DAMOS AO TRABALHO DE FALAR?

SÍLVIA Meia hora Lourenço! Mais um minuto e nunca mais terias a minha companhia. Já estava a arrumar a mala. E era escusado telefonar porque eu não iria atender. Consegues perceber o quanto estou irritada? Agora se não te importas preciso de ir à casa de banho.
LOURENÇO
Fico aqui à espera.
SÍLVIA
Tu não sabes o que é esperar!
LOURENÇO Devo pedir alguma coisa?
SÍLVIA
Tu sabes o que eu bebo, não sabes? Então vai pedindo.
LOURENÇO
Gin tónico com 7up…
SÍLVIA E LOURENÇO
Sem gelo!
LOURENÇO
Eu sei.

Sílvia sai.

LOURENÇO Boa noite, são dois gins tónicos com 7up um com gelo e o outro sem. Obrigado.

Sílvia volta da casa de banho.

SÍLVIA Então e ainda andas a comer a cabra da minha irmã?
LOURENÇO
Por amor de Deus Sílvia. Não vim aqui para falar da tua irmã.
SÍLVIA
Então quer dizer que andas!
LOURENÇO Eu não disse isso. Fomos para a cama umas quantas vezes, nada que eu não possa evitar.
SÍLVIA Eu sabia! Não tenho mais nada a dizer. Podes pagar as bebidas que eu vou andando. Sabes sair daqui? Basta desceres pela rua e virares à direita…
LOURENÇO
És sempre assim tão decidida. Pensei que havia em ti uma réstia de sentimentos por mim.
SÍLVIA
Olha lá meu lindo, eu gosto de ti e tu sabes, apenas não gosto do gajo que anda a comer a minha irmã. Fui esclarecedora?
LOURENÇO
O mais possível. Sabes que eu só tenho olhos para ti, mas um gajo tem as suas necessidades. E tu nunca quiseste assumir o namoro. Querias que dissesse o quê à tua irmã? Olha não te posso comer porque ando com a tua irmã mas ela não quer que tu saibas.
SÍLVIA
Então e qual é a rata que mais gostas de comer?
LOURENÇO
Desculpa!
SÍLVIA
Ratas! Nunca ouviste falar. Aquelas fissuras que as mulheres têm entre as pernas e que deixam os homens loucos. (Nunca percebi porque lhe chamam rata!) Queres que te mostre ou tornaste-te num senhor pudico?
LOURENÇO
Estás a passar-te não estás? Mas que merda de conversa para uma noite de sexta-feira. Se era para aturar isto não tinha vindo.
SÍLVIA
Então? Qual é a tua rata favorita? A minha irmã comentou que gostavas de a comer à frango assado. O que não deixa de ser curioso. A mim só me comes de quatro.
LOURENÇO
Desde quando é que vocês falam disso?
SÍLVIA Há muitas coisas que tu ainda não sabes sobre as mulheres.
LOURENÇO
Pelos vistos não. E sim, gosto de comer a tua irmã de frente, pelo menos não tem essas tuas mamas pouco práticas. Nunca discutimos isso antes, mas podias fazer uma operação.
SÍLVIA
Pensava que os homens gostavam de grandes mamas.
LOURENÇO
Grandes mamas sim! Mas estamos a falar da mãe de todas as mamas.
SÍLVIA
Podias ser menos ordinário.
LOURENÇO
Podia!
SÍLVIA
Ordinário!
LOURENÇO
Acho que estás a precisar de outro gin. Era mais um aqui para a senhora. Ainda estou para perceber se gostas realmente de mim. Às vezes penso que estou a perder o meu tempo. Não me dás nenhuma pista e só sabes falar da tua irmã.
SÍLVIA É mais do facto de a teres comido.
LOURENÇO És capaz de falar de outra coisa. Comer, comer, comer. É só isso que te vem à cabeça? Comi a tua irmã como podia ter comido outra qualquer.
SÍLVIA
O que interessa é comer? Certo!
LOURENÇO Eu não disse que o que interessava era comer. Só disse que comi a tua irmã como podia ter comido outra. Se tivesse comido a minha melhor amiga provavelmente não estavas para aí com esse discurso. Podemos passar esta história à frente? Pensa que te conhecia hoje e que te falava de uma ex minha que, por coincidência, era a tua irmã. A vida tem de andar para a frente. Eu amo-te.
SÍLVIA
Estou tentada a acreditar em ti. Eu também te amo. Contudo ainda não esqueci o problema das mamas. São assim tão grandes?
LOURENÇO
Um pouco desproporcionais. Nada que uma operação não resolva.
SÍLVIA
Para ti é tudo uma questão de dinheiro. Já pensaste que posso sentir-me bem com elas?
LOURENÇO
E sentes?
SÍLVIA Deixa de fazer perguntas oportunistas. Sabes bem que odeio as minhas mamas. Podias ser um pouco menos severo comigo. Afinal amamo-nos.
LOURENÇO
Eu não fui severo contigo. Tu é que tens sido severa comigo. E queres saber, gostei muito de comer a rata da tua irmã.
SÍLVIA
És um porco!
LOURENÇO
Então sê a minha porca.
SÍLVIA
Não tens sentido nenhum de romance? Dois porcos são para estar numa pocilga e chafurdar na merda.
LOURENÇO
Então vamos chafurdar na merda.
SÍLVIA
Eu dou-te a merda meu cara de caralho! Julgas que vens aqui, molhas o bico e desandas da minha vida? Eu quero um homem de verdade.
LOURENÇO
E o que faz de mim não ser um homem de verdade para me tornar num cara de caralho?
SÍLVIA
Não digas mais asneiras. Fode-me na casa de banho!

Dentro da box na casa de banho dos homens.

LOURENÇO Porque é que ainda nos damos ao trabalho de falar?
SÍLVIA Para nos sentirmos vivos.

1 comentário:

João Roque disse...

Adorei este diálogo...
Abraço.