PUTAS E AFINS (Parte 1 - 1 de 3)

MEU AMIGO MEU AMOR
1. ELE
Putas e rimas num quarto fechado
A porta trancada e um resto de céu
Beijaste-lhe a mão e um sopro apagou a vela
Que a mãe deixou na mesa quadrada
Com fotos escuras tiradas na polaróide
Comprei-ta nas férias do verão em Ibiza
Éramos amigos do Marco e da Rita
Cabelos dourados empoleirados em cordas azuis

Abraças e beijas como um animal
Não ouviste as notícias no telejornal
Não mordas que aleijas os corpos tão puros
Das putas tão virgem
De sexo inseguro

A semana passada não lavaste os lençóis
Cheiravam à Preta dos peitos redondos
E o lenço da Vanda também lá ficou
Entranhado no cheiro do cheiro das coisas
Que guardo no peito só de me lembrar

Vão-se as Putas e as rimas do quarto
Entro devagar para não te assustar
Estás deitado no chão completamente enfrascado
A cabeça no duche de água fria
E o tempo lá fora convida-me a te deixar
Fodido no chão da casa de banho e então?

Não sei do teu livro ou sequer do teu coração
Pela sanita jogaste os dois
Quais dados que dantes lançávamos no casino
A Rute e a Lia faziam por gostinho
Umas vezes na minha e outras na tua
As mães de saída e os pais divorciados

Quem toma conta de ti se eu desaparecer?
Nunca te disse que a puta mais puta sou eu?
A ver-te morrer, a ver-te sofrer, sem nada dizer?
Cara apática, sem expressão de rosto,
Cabelo frisado do dia anterior
E o sangue sujou o chão e então? E então?

Podes sujar que eu limpo
Sempre fui o teu empregado
E o chulo para as putas e a musa para as rimas
E agora solto uma lágrima ao ver-te morrer.

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