DIÁLOGOS – JANTAR PARA UM

- Só agora?
- Devia ter chegado mais cedo?
- Não. Eu é que estava aqui sozinho e o tempo pareceu-me mais demorado que o normal.
- Estava um transito dos diabos. Fiquei parado horas num cruzamento. Só me apetece gritar! Não imaginas o quanto. Mas não vale o esforço. Dói-me a garganta. Tenho de deixar de fumar. Esta merda está a consumir-me os pulmões. Temos alguma coisa para comer? Estou a morrer de fome... hoje o almoço estava uma merda – acende um cigarro.
- Não ias deixar de fumar.
- Ia, não disse que vou? Mas ainda não é o momento certo. Estou demasiado stressado. Afinal temos alguma para comer ou não?
- Vê no frigorífico.
- Isso quer dizer que não fizeste nada para comer?
- Não estava com vontade. Era suposto fazer alguma coisa para comer?
- Não! Não era.
- O que se passa?
- Não se passa nada. Nada mesmo. Mas porque é que não fizeste nada? Estou a morrer de fome. Passo o dia a trabalhar e o que me dão é um almoço que não serve nem para a cova do dente.
- Não sou teu criado.
- Eu não disse que eras.
- Subentendeste.
- Mas queres discutir?
- Não estou para aí virado... dá-me um dos teus cigarros.

Sentam-se em frente ao sofá a assistir televisão. O volume está quase no mínimo e o silêncio entre eles é mortal. Só resta dizer que no dia seguinte já não estavam juntos. Cada um em sua casa fazia jantar para um com medidas para dois. É o hábito!

1 comentário:

Unknown disse...

é quando o cotidiano deixa de ser um porto seguro e passa a desmontar tudo o que poderia ser bonito e precioso, porém irregular...

por isso que eu tenho medo de rotinas.