PALAVRAS II

“As palavras são aquilo que nos mata”, pensou. “Nunca ninguém entenderá porque as proferimos ou porque as escrevemos. Nunca ninguém as lerá da forma que queremos. As palavras são viajantes. Olha-se para elas e nunca se sabe ao certo de onde surgem ou para onde vão. Ninguém as vê como simplesmente palavras. Tentam descodificar o que não tem código. Ninguém as entende no seu estado puro, ninguém as reconhece. São sombras passageiras a precisar de um lugar. Mas elas vivem bem sem esse lugar...

As palavras são como as pessoas. Por mais que as ouçamos, nunca vamos perceber a verdadeira questão. Pois ninguém sabe exprimir aquilo que realmente quer dizer. O sentimento passa para lá da verbalização. Sente-se com todos os sentidos. É preciso cheirar, saborear, ver, ouvir, tocar...

As palavras são como o silêncio. Não falam. Perturbam. Desassossegam as mentes mais pacíficas. E quando se descobre que as palavras são apenas palavras... o que resta?” Deixou-se a olhar para um velho livro de escritos seus. De que serviriam todas aquelas palavras escritas a caneta esferográfica preta? Quem as fosse ler iria sempre buscar aquilo que não estava lá.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este é o sentimento que tantos e tantos têm e nunca o conseguiram expôr.
Poucas vezes, tão bem, se escreveram palavras para falar de palavras.
Este texto é notável...tal como tu, Chuvisco.