MINOTAURO

Resta-se a cidade ao labirinto de prédios, carros, pessoas e ruídos ensurdecedores. E no centro o monstro. Cavernoso corpo, corpo de homem, cabeça de animal, enfurecido em fumos densos, pestilentos, fragilizado pelos Homens, privado da doença de amar. E quem... alguém que o acolha... ninguém! Só lhe resta a traição da morte. A punhalada traseira que fere os pulmões e o ar sôfrego evapora-se para o vento, para o nada, para longe do que um dia foi... corpo de homem, cabeça de animal... e amou sem saber que o fazia. Ninguém lhe explicou. Ninguém se interessou pela besta, pelo disforme. Desprezado no centro do labirinto, sozinho, a rondar os caminhos sem saída. Se ao menos lhe tivessem mostrado o amor... se ao menos lhe tivessem dado a oportunidade de existir sem ser um monstro. Se ao menos tivessem-no deixado existir como Homem, como alma bondosa, como coração apaixonado. E de três em três anos sete rapazes e sete raparigas serviram de sua refeição e essa foi a sua aprendizagem. E no final, o seu criador, o seu alimento, matou-o. No centro do labirinto, jaz morto, aquele que nunca teve intenções de ser o que era. Um monstro. Uma aberração.

Sem comentários: