O CICLO DA FRUTA

Nada para além disto... nada para além do nada! De que servem os ensejos fugazes do indisciplinado sentido do ser? As horas gastas na solidão das palavras, dos medos, dos unicórnios brancos que nunca chegaram a aparecer. Soltou-se a podre fruta que amadureceu demais para aquela árvore. A sua casca estava epidémica nas doenças das horas que passam. E o nada não deixou de ser o nada para além do tudo. Pois tudo o envolvia e nada lhe restava. Nem a frieza fazia parte de si ou o calor dos instantes em que julgava ser aquilo que não era. E tudo era apartado, transviado, logrado. E o tudo era o nada que morria aos poucos. Jazia sozinho no chão... a alma, o corpo, o sangue. Mas estava vivo. Disso tinha a certeza. Estava capaz de tocar-se a si mesmo e sentir consistência. Sentir a dureza. Sentir-se. Mas não sentia o que o rodeava. Tudo não passavam de imagens a preto e branco. E tudo era o nada. O engodo. O chamariz para o que não existia. Contudo, ele sabia existir-se, sabia ser, sabia que sabia, e sabia que não sabia saber. Já no chão a fruta em decomposição. O regresso às raízes. O regresso ao seu centro exposto a nu, Ao seu centro que daria nova vida, novo fruto. E deixou o tempo passar. E deixou o tempo actuar. E deixou-se estar na esperança de que tudo desse certo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este texto fez-me chorar. Está escrito de uma forma dura, fria, triste...