FRIO

Acordou de manhã e descobriu que já não estava no Brasil. O frio que entrou pela janela do quarto, agora vazio de sentimentos, não enganava ao ser que ali dormia. Ele estava na sua casa de Lisboa, só que já não a sentia como sua casa. Olhou à volta e era como se tivesse alugado uma casa, um espaço que em tempos havia pertencido a outros. Já não era só o frio que entrava pela janela, era também o frio das paredes, o frio das recordações, o frio dos olhos que congelavam as lágrimas não permitindo que elas escorressem.

Deambulou pela casa e não sentiu nada. Nem o mínimo calor que um lar deveria transmitir. Nada ali fazia sentido agora que não era mais partilhado com o seu amor. E o que duas mãos tinham traçado pareciam agora traços de gente desconhecida. Faltava algo. Faltava a outra metade desaparecida. Faltavam os sonhos. Faltava a doce carícia, o abraço por receber. E não era o frio das ruas que o incomodava, era o frio da alma, o vazio do coração.

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