MAIS PERTO

Estava quase - mais um dia e estou de volta – pensou. Tanta coisa havia ainda por fazer, malas para arrumar, livros para empacotar, documentos para tratar e o tempo voava. Cada segundo era menos um segundo, cada olhar era menos um olhar, cada respirar era menos um. E quando olhou para trás recordou o seu dia de chagada e tudo lhe pareceu tão pouco tempo ao mesmo tempo que lhe pareceu uma eternidade. Estava cada vez mais perto de regressar.

Pensamentos novos, pensamentos antigos, tudo lhe remexia na cabeça. Retracto ambulante de um jovem pasmado com o decorrer das horas. Figura que já não era, traços que já não lhe pertenciam, cores que saíram com o tempo. O quadro de si mesmo estava gretado, cansado, desgasto. Olhou para a tela branca ao lado, para os pincéis por usar, para as tintas ainda fechadas nas embalagens. Tudo aquilo fazia parte de um recomeçar. Abriu o primeiro tubo, misturou a linhaça, poisou levemente o pincel, e pintou o primeiro traço... estava mais perto de algo... estava mais perto... mais perto...

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