ÀS VOLTAS

Eu quero acreditar em algo que seja real, algo que eu possa palpar sem duvidar por um segundo que o estou a fazer, sentir sem duvidar desse sentimento, sem duvidar de que o que o gera é algo que está em mim e não um produto de uma série de variantes exteriores. Tento, de certo modo, interpretar tudo aquilo que me rodeia, tudo aquilo que vivo, tudo aquilo que me fazem viver. Estou em constante procura de algo que não sei o que é, apesar de inconscientemente saber que esse algo que procuro nada mais é do que a verdade: Uma verdade enterrada, uma verdade que não é, aparentemente visível, que se subjuga ao limite que a nossa cabeça chama de tempo e espaço. Sou detonado pelas variantes de um sistema corrupto de intelectos massificados e não me consigo distanciar o suficiente para ver uma imagem clara daquilo que se passa à minha volta. Sair dessa grelha torna-se algo de pura destreza a que não estou capaz.

Olho à volta e vejo destruição, a corrupção dos meus próprios pensamentos, o não alcance dos conceitos mais básicos. A credibilidade nas coisas tornou-se estranha, converteu-se em não-religião, em nada a que me possa agarrar. O tempo não diz nada, o tempo apenas destrói, corrói, e será que na ausência desse tempo encontraria diferenças? O tempo apenas me fala de um passado, um presente e especula-me um futuro. Mas o tempo tem telhados de vidro. E nesses telhados reside a experiência colectiva que cria as informações a que apelidamos de verdades. E cremos que tudo gira numa circunferência perfeita de causas e efeitos. Se um objecto é largado ele vai cair e essa é a nossa experiência, esse é o ensinamento do passado. Mas o que me garante que no futuro esse mesmo objecto continuará a cair? E se um dia ele deixar de cair? Direi que foi engano? Que os meus olhos não estão a ver bem? Ou aceitarei simplesmente essa nova verdade pondo automaticamente de parte o conhecimento adquirido do passado? E se, um dia mais tarde, o objecto que deixou de cair voltar a cair? E se ele só voltar a cair quando eu não estiver cá para ver... onde posicionarei a verdade no tempo? O que é real afinal?

A percepção que tenho das coisas é tão dúbia quanto achar que os daltónicos são os que vêm mal! Existe uma forma correcta de ver as coisas, de as percepcionar, de as experienciar? Onde ficam as barreiras que me permitem saber quem sou, o que faço, sem me imaginar preso à caverna que durante toda a vida me fez acreditar que o mudo era apenas um conjunto de sombras e essa era a minha realidade? E dentro dessa realidade existem formas próprias para agir, para ser e estar. E se meto o pé fora da caverna e deparo-me com outras verdades? Tudo isto gera um conflito imenso de perguntas e respostas, de confrontos de ideais. Estou realmente preocupado com o absorver de informações para as quais não tenho tempo de avaliar, comparar, decidir, sendo obrigado a correr contra o tempo de viver mais um dia, um atrás do outro, tentando ao máximo organizar ideias reflectidas e lutando contra a maré de percepções pré-fabricadas que me incluem num lote, numa casta, numa definição já ela esquematizada e perjurada.

Todas as dúvidas foram feitas para persistir e todas as dúvidas que encontram uma resposta de um dos ângulos, abrem automaticamente outra dúvida no outro ângulo. O que busco então? Respostas para as quais só vou encontrar mais perguntas?

2 comentários:

Anónimo disse...

"só sei que nada sei"


abraço*

Anónimo disse...

Um post aflitivo.
A vida émm assim, perguntas atras de perguntas e nunca estamos verdadeiramente satisfeitos, falta-nos sempre qq coisa e nunca estamo s verdadeiramente bem. Temos é q pensar no q é mais importante e n dar mta importancia ao secundario.