Por favor. Apaga a luz e vem deitar-te ao meu lado. Está tão fresquinho aqui. Reparaste como hoje me esmerei no jantar? Fiz o teu prato favorito. Estava bom não estava? Ainda me vais explicar o que aprecias tanto num bacalhau à brás. Com tantos pratos para escolher tinhas logo de gostar daquele que os miúdos detestam. Às vezes pergunto-me se não fazes isso só para me irritares. Bem sabes o que eu os aturo depois. Eu sei que estás sempre a dizer que devemos educá-los a gostar de tudo pois tudo tem o seu valor na pirâmide alimentar, mas há coisas que eu também não gosto! E que mal tem isso. E o exemplo é muito importante. É claro que posso continuar a fazer só pratos que nós gostemos, mas um dia que eles descubram ficarão desiludidos e lá se vai a figura do pai e da mãe. Mas agora também não me quero preocupar com isso. Já viste como fico bonita com a luz da lua a entrar pela janela e a tocar no meu corpo. Tenho vestida a tua lingerie favorita. Podias pelo menos olhar para saberes que não estou a mentir. É aquela vermelha que tanto valoriza cada centímetro do meu corpo. Estou a excitar-me só de pensar em ti a lamber-me o corpo. A exorcizar-me a vagina retirando todo o prazer de entre os nossos corpos suados. Amor, olha como as minhas mãos acariciam os meus seios. Tu gostas deles, de olhar para eles, de beijá-los, de chupá-los. Olha para mim! Há quantas horas te vejo a bajular esse computador? Só pensas em trabalho? Eu sei que és a fonte dos nossos rendimentos. Que é à tua custa que temos esta casa, esta cama, esta lingerie, que eu tenho este corpo. Eu sei que tens imenso trabalho, mas isso não é tudo na vida. Relaxa-te um segundo. Relaxa-te comigo. Vamos acasalar nesta noite de lua cheia. Vamos ser cães e ganir. Os miúdos dormem que nem pedras, ferradinhos e a noite está maravilhosa. Ao menos diz-me que estás a ouvir? Sofro só de pensar que já não queres estar comigo. Que o teu trabalho é mais importante que eu, que a tua família, que os teus filhos. E bem sabe Deus como os fizemos. O mais velho foi na viagem para Nova Iorque. Mal chegámos e entramos no quarto do hotel disseste-me que querias ser pai e foi um dos momentos mais bonitos. E acabámos essa noite a ver o “Cats”. Lembras-te? Nessas férias perdemos o bom da grande maçã pois só pensávamos em fazer amor. Tínhamos acabado de casar. O do meio foi na Holanda. Fomos lá festejar o nosso quinto ano de casados. Ficámos tão pedrados que nos esquecemos de usar o preservativo. Nós e todos os outros. Ainda gostava de saber se o filho é mesmo teu… mas os olhos dele são iguais aos teus e por isso nunca pedi para fazeres o teste. O mais pequeno foi nesta casa. Comprámo-la e tinha um quarto a mais e resolvemos enchê-lo com o terceiro. Devo dizer que o mais bonito deles todos. Foi o que saiu mais a ti. Amo-te muito meu amor apesar de todas as discussões que temos. Mas deixa que te diga: nessa altura tratavas-me como uma rainha, e hoje, não passo da tua dama de companhia. Mas o meu amor por ti é maior que tudo e ainda sei ver o lado positivo deste nosso matrimónio. Por esta altura já tiveste tempo para desligar o computador e correres para o meu leito. Aqui te espero meu belo príncipe. Diz-me que ainda sabes deixar-me nas nuvens. Diz que me amas como na primeira vez. Sempre podemos deixar os miúdos na minha mãe e viajar pelo mundo. Era giro. Voltar a namorar. De mãos dadas pelas praias paradisíacas, pelas cascatas, pelas pradarias. Podíamos até comprar outra casa e começar tudo de novo num outro lugar. Podíamos…
Não sonhes mais comigo – disse ele.
Não sonhes mais comigo – disse ele.