Quando Rodrigo só queria desabafar
Combinaram encontrar-se no final da tarde num café que desse jeito a ambos. Decidiram-se pelo Espanhol aproveitando a sua explanada aquecida e a vista para o rio. Às sete e meia em ponto encontravam-se sentados cada um com um capuccino entre as mãos.
- Mas o que é que se passa filho? Esse silêncio...
- Está tudo uma grande confusão. São tantas as coisas que tenho para fazer, que tenho para pensar e não consigo dar vazão nem a metade. E já sabes que é o André. Não consigo esquecê-lo. Não estamos juntos nem eu consigo andar com a vida para a frente.
- Não te vais abaixo agora pois não? És novo e ainda vais passar por muitas coisas.
- Eu sei mãe, mas não é simples. Quando se ama alguém não é fácil esquecer, muito menos quando sabemos que a outra pessoa também nos ama. A minha vida não termina aqui mas neste momento parece que sim, parece que não há esperança para o futuro. A sua ausência deixa-me de rastos apesar de por vezes sentir que estou melhor assim, que ainda tenho muito para viver e que ninguém é insubstituível, mas o sentimento é de vazio.
- Mas quando não dá, não dá.
- Eu não estava a ser muito feliz, mas agora estou miserável. Acho que nos últimos tempos já estávamos demasiado habituados um ao outro. Para além do amor éramos grandes amigos, grandes amigos que não se queriam perder. Eu ainda o sinto comigo. Eu sei que não andávamos bem, que eu rebentava por tudo e por nada, já nada me satisfazia, já nada me dava prazer. E se por um lado me sinto mais leve nos ombros por outro lado carrego comigo a saudade de tudo o que vivemos juntos, o pesar de não poder voltar a olhar para ele.
- Mas tens de ter forças para te segurar e eu estou aqui. Vais ver que tudo vai correr bem. E eu não te deixo sentires-te sozinho.
- Isso é muito bonito e eu aprecio, mas a minha vida não é só ser teu filho. E não digo isto por mal. O que mais me irrita é sentir olham para mim como o grande cabrão, talvez porque seja mais fácil, mas as coisas porque passámos e tudo aquilo que eu senti cá dentro, a tentar ser o melhor amante, o melhor companheiro, o melhor amigo...
- Mas tu não és uma má pessoa.
- Mas sou o cabrão!
- Ai, Rodrigo, não digas essas coisas.
- É verdade mãe. No final da história é essa a conclusão. E não me sinto com forças para voltar a amar, estou cheio de feridas emocionais e tenho a cabeça toda trocada, porque tudo aquilo que eu tento fazer bem acabo sempre por fazer mal. Eu não presto.
- Não te quero ouvir falar assim. Eu não dei à luz um derrotado, dei à luz um guerreiro e tu sempre o foste. Quero-te de cabeça erguida. Se as coisas não deram certo não deram, talvez ele não estivesse numa altura da vida propícia a mudanças, talvez simplesmente não quisesse mudar em nada e tu provavelmente não estás numa altura da tua vida para demasiada estabilidade. Tu ainda és jovem, tens muito para aprender e não sabes o que te reserva o dia de amanhã. Por isso não digas disparates.
- Eu só queria ser feliz. Mas já dizia a bíblia, o preço da traição são trinta moedas de prata e bem sabemos que essa história acabou em suicídio.
A mão de Lúcia voo direito à cara de Rodrigo. Depois da dura bofetada fez-se um grande silêncio à mesa e Rodrigo não conseguia olhar para a mãe. Lúcia tirou um cigarro do maço e acendeu-o. Estendeu-o ao filho.
- Fuma, vai fazer-te bem.
- Mas o que é que se passa filho? Esse silêncio...
- Está tudo uma grande confusão. São tantas as coisas que tenho para fazer, que tenho para pensar e não consigo dar vazão nem a metade. E já sabes que é o André. Não consigo esquecê-lo. Não estamos juntos nem eu consigo andar com a vida para a frente.
- Não te vais abaixo agora pois não? És novo e ainda vais passar por muitas coisas.
- Eu sei mãe, mas não é simples. Quando se ama alguém não é fácil esquecer, muito menos quando sabemos que a outra pessoa também nos ama. A minha vida não termina aqui mas neste momento parece que sim, parece que não há esperança para o futuro. A sua ausência deixa-me de rastos apesar de por vezes sentir que estou melhor assim, que ainda tenho muito para viver e que ninguém é insubstituível, mas o sentimento é de vazio.
- Mas quando não dá, não dá.
- Eu não estava a ser muito feliz, mas agora estou miserável. Acho que nos últimos tempos já estávamos demasiado habituados um ao outro. Para além do amor éramos grandes amigos, grandes amigos que não se queriam perder. Eu ainda o sinto comigo. Eu sei que não andávamos bem, que eu rebentava por tudo e por nada, já nada me satisfazia, já nada me dava prazer. E se por um lado me sinto mais leve nos ombros por outro lado carrego comigo a saudade de tudo o que vivemos juntos, o pesar de não poder voltar a olhar para ele.
- Mas tens de ter forças para te segurar e eu estou aqui. Vais ver que tudo vai correr bem. E eu não te deixo sentires-te sozinho.
- Isso é muito bonito e eu aprecio, mas a minha vida não é só ser teu filho. E não digo isto por mal. O que mais me irrita é sentir olham para mim como o grande cabrão, talvez porque seja mais fácil, mas as coisas porque passámos e tudo aquilo que eu senti cá dentro, a tentar ser o melhor amante, o melhor companheiro, o melhor amigo...
- Mas tu não és uma má pessoa.
- Mas sou o cabrão!
- Ai, Rodrigo, não digas essas coisas.
- É verdade mãe. No final da história é essa a conclusão. E não me sinto com forças para voltar a amar, estou cheio de feridas emocionais e tenho a cabeça toda trocada, porque tudo aquilo que eu tento fazer bem acabo sempre por fazer mal. Eu não presto.
- Não te quero ouvir falar assim. Eu não dei à luz um derrotado, dei à luz um guerreiro e tu sempre o foste. Quero-te de cabeça erguida. Se as coisas não deram certo não deram, talvez ele não estivesse numa altura da vida propícia a mudanças, talvez simplesmente não quisesse mudar em nada e tu provavelmente não estás numa altura da tua vida para demasiada estabilidade. Tu ainda és jovem, tens muito para aprender e não sabes o que te reserva o dia de amanhã. Por isso não digas disparates.
- Eu só queria ser feliz. Mas já dizia a bíblia, o preço da traição são trinta moedas de prata e bem sabemos que essa história acabou em suicídio.
A mão de Lúcia voo direito à cara de Rodrigo. Depois da dura bofetada fez-se um grande silêncio à mesa e Rodrigo não conseguia olhar para a mãe. Lúcia tirou um cigarro do maço e acendeu-o. Estendeu-o ao filho.
- Fuma, vai fazer-te bem.
2 comentários:
"Se as coisas não deram certo não deram, talvez ele não estivesse numa altura da vida propícia a mudanças, talvez simplesmente não quisesse mudar em nada e tu provavelmente não estás numa altura da tua vida para demasiada estabilidade."
Faz o papel de mae. Se as coisas fossem assim tao simples,falta é contar o resto q é inconveniente
O conforto materno...
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