Acção passada Domingo dia 5 de Outubro de 1997
Quando Rodrigo tem a visita inesperada de André (Parte I)

Rodrigo já só pensava em André e há mais de seis meses que andava de coração apertado sem saber o que fazer. Na sua cabeça permanecia sempre a dúvida, pedir André em namoro e possivelmente um dia se tudo corresse mal perder um grande amigo, ou ficar com um grande amigo e permanecer em estado de duvida constante a pensar no que poderia ter vivido? E se a paixão não fosse mais do que um engano? A cabeça de Rodrigo estava a pontos de explodir de tanto amar. André era uma pessoa extremamente simples, não era bonito mas tinha o seu encanto e sempre que Rodrigo estava com ele o mundo à volta desaparecia e quando estava sozinho imaginava sempre a hora de voltar a estar com ele.

André já só pensava em Rodrigo e há mais de seis meses que andava de coração apertado sem saber o que fazer. E se Rodrigo não gostasse dele? E se para Rodrigo ele fosse só mais um? Iria arriscar numa coisa para depois ser humilhado. André tinha consciência de que não era a pessoa mais bonita do mundo, contudo, essa consciência não ultrapassava os complexos todos que tinha em relação a si e ao seu corpo. Com vinte e seis anos ainda não tinha encaixado bem a ideia de estar apaixonado por um rapaz de dezoito, mas quando estava com Rodrigo o mundo à volta ficava mais luminoso, mais bonito, como se tudo ganhasse um novo encanto.

Rodrigo estava no quarto quando recebeu uma mensagem no telemóvel: «Estou aqui em baixo e preciso de falar contigo» O coração de Rodrigo disparou. O que fazia ele ali? Que explicação é que ia dar aos seus pais para sair de casa àquelas horas a uma terça-feira. Olhou para todos os lados mas não sabia muito bem o que fazer nem o que pensar. Levantou-se e agarrou na mala, olhou para os pés e viu que estava descalço «Calçar-me», pensou. Voltou a poisar a mala e foi buscar os sapatos. Sentou-se na cama para se calçar e respirou fundo, atravessar os pais não ia ser tarefa fácil e ele estava cada vez mais nervoso, afinal o que dera a André para aparecer assim às onze da noite!

Passou pela sala e os pais estavam a ver televisão.

- Pai, mãe, vou à rua, já volto.
- A uma hora destas filho? Não te esqueças que amanhã é dia de aulas! – disse a mãe.
- O que é que vais fazer à rua? Hoje é Domingo – indagou o pai em tom desconfiado.
- É que a Joana ligou-me e está a precisar de falar, parece que aconteceu alguma coisa de grave na família. Ela não conseguiu explicar muito bem porque estava demasiado nervosa. Eu vou tentar não demorar.
- Vai lá, mas tem cuidado e vê lá a que horas é que chegas. E manda cumprimentos nossos à Joana e à família e vamos esperar que não seja nada de grave – disse a mãe.

Mais tarde teria de arranjar uma história para a Joana mas isso não importava nada quando tinha André à sua espera à porta de casa. Ao descer as escadas do prédio escreveu uma mensagem no telemóvel: «Para todos os efeitos estou em tua casa e desculpa lá estar aí mais vezes no imaginário do que na realidade»

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