PARTIR

Blindado nos olhos contemplava a vida sem saber que o fazia
Foi puro gesto delicado em sombra esquecida
Amalgama de prosas poéticas e nada em tudo via
E estava desperto, atenção desatenta... sem intenção se despia
E assim ficava, negra escura alma em corpo dorido
O encontro das lembranças do que seu e só seu
Era o despertar da acidez por caminhos, labirintos,
Preciosas estradas de pedra doída
Escabrosa, mal cuidada, o presente rescaldo da harmonia
Quente, como um braseiro apagado, brilhante, consumidor,
O teu corpo no meu, o meu no teu, o nosso
Frio, como a noite que madruga sem se tapar,
O teu corpo ali, o meu corpo aqui
E contemplo sem o saber
Que a saudade é a pior punição dos velhos tempos
Da vigilante memória em mar dissipada
Do agregar de contendas em sonos abaladas
Da cruel eventualidade de dizer adeus ao próprio adeus
Partem os marujos
Partem as barcas
Partem as almas
Partimos nós

4 comentários:

João Roque disse...

Belìssimo!

paulo disse...

belíssimo e forte, como nós, os humanos e os nossos sentimentos. sempre chegando e partindo!

Anónimo disse...

Muito coplexo e muito bonito.

Pedro Eleutério disse...

Obrigado aos 3 pelos comentário.