BRUNA

Verteu mais uma lágrima por mais uma despedida, mais uma vez o aeroporto, mais uma vez as pessoas estranhas à sua volta, rodopio de emoções, vidas que se cruzam, descruzam, para quem sabe, um dia, voltarem a cruzar. Não era um adeus. Era um até mais. Mas tudo pelo qual tinham vivido era mais forte do que a retenção das lágrimas. A viagem ao Brasil mudou as suas vidas e, juntos, assistiram a essas transformações, juntos conversaram, juntos viveram, lado a lado, porta com porta. E agora a sua porta estava aberta. Era visível o colchão frio, despido sob a base da cama, as paredes nuas, um silêncio trazido pela aragem da janela que foi deixada, também ela, aberta. E continuou a dirigir-se ao quarto dela para vestir-se, era lá que tinha as roupas, no armário que estava metade vazio expondo toda a brancura dos contraplacados. E alguns cabides permaneciam no varão, solitários, balançando com as pequenas brisas que entravam.

O mundo, onde estava a aprender a viver, desaparecia aos poucos. Ainda se lembrava do primeiro dia em que a viu como se estivesse a acontecer naquele momento. O tempo tinha voado e tanto que viverem, o mesmo tanto que nunca mais iria esquecer, as horas bem passadas, as conversas na varanda, os desabafos das tristezas, o contar das alegrias, explodirem de vida, a partilha de uma casa, das viagens, das emoções. E quem iria esperar que aquela pequena moça era tão parecida consigo? Aquela que ele viu chegar numa tarde, onde o sol já se punha, junto à praia, quando os rostos ainda se estranhavam, onde tomaram a decisão de partilhar uma casa. Todos esses momentos ficaram guardados na sua memória. Restava-lhe a ele continuar.

1 comentário:

Anónimo disse...

Com emoção releio e relembro esses tempos, que não são distantes mas, que já vão longe destes meus dias frios de hemisferio norte.

Foste meu confidente, meu aliado, meu amigo, minha animação.

Fazes parte essencial do carinho quente que preenche esse meu lado do mundo, essa nossa vida, esse nosso pedacinho de equador. Foram fragmentos de uma vida só, e por instantes, verdadeiramente só nossos.

Adoro-te