- Senta-te ao meu lado e diz-me o que se passa – disse-lhe o avô.
- Quanto mais tempo ficarás ao meu lado?
- Eu não posso responder a isso. Tu é que sabes por quanto mais tempo precisarás de mim.
- Queres dizer que estás comigo porque necessito de ti?
- Em parte sim! Mas não fiques a pensar muito nisso. Também estou aqui porque gosto de estar.
- Como queres que não fique a pensar nisso? Agora não me sai da cabeça. Partiste tão de repente. E mal tivemos tempo de nos conhecer. Foi-me vedada a vista do teu corpo morto. E talvez seja por isso que, para mim, continuas vivo. Não te cheguei a ver pútrido, cinzento, apagado... A última imagem que guardei de ti foi de um sorriso de despedida quando foste trabalhar. Disseste-me adeus. Nunca pensei é que esse adeus fosse mesmo um adeus. E acho que nem tu sabias. Mas fechei os olhos e acreditei-te vivo. E vivo estás hoje ao pé de mim. Falámos, conversámos, e fui-te conhecendo mais e mais. Foste-me revelando os segredos da vida, acompanhaste-me nas minhas descobertas. Conheces o meu coração melhor que ninguém...
Instalou-se um momento de silêncio.
- E estarei sempre aqui!
- E quando eu não “necessitar” mais de ti? Virás ao meu encontro? Perguntar-me-ás onde estou? Quem sou? O que faço?
- Se algum dia não precisares mais de mim, voltarei para o lugar de onde vim. E se algum dia voltares a precisar outra vez de mim, regressarei. Não leves isto como algo de estranho. As pessoas podem amar outras pessoas, e gostar de estar juntas, mas não têm de precisar umas das outras a toda a hora. O afastamento também “faz” as relações crescerem. E estou certo de que se me amas vais precisar de mim. Eu também vou precisar de ti.
- E se eu não precisar nunca mais de ti?
- É porque deixas-te de me amar.
E o avô voltou para o lugar de onde veio.
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Há 1 hora
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