INTRODUÇAO

Juntamente com as estrelas ele ia traçando o seu caminho. Seguia o seu curso. O curso das estrelas. Debatia-se com as lógicas do mundo e os seus pensamentos corriam a mil à hora. Nunca estava satisfeito. Encostava-se a um canto e tudo já era uma perda de tempo. Não só a vida estava um minuto mais à sua frente como os seus sonhos estavam um minuto atrasados em relação à vida. Se pensava pouco era porque estava aborrecido, se pensava muito era porque não tinha mais tempo para conseguir pensar em tudo o que queria. Era difícil encontrar o meio termo. Para dizer a verdade ele não conhecia bem o significado do meio termo. Tudo nele era exagerado.

Era uma figura frágil revestida de um corpo forte. Os seus gestos intensos eram facilmente derrubados por uma ligeira brisa de palavras. Quem o conhecia sabia que nem sempre havia sido assim. O tempo foi-lhe alterando as feições, os medos, as vontades, os desejos, os sonhos... só os olhos ficaram iguais. Olhos que se viram a verter lágrimas, que brilharam em dias de céu cinzento, que omitiram as dores mais carregadas... olhos sempre presos num horizonte ao alcance das suas mãos grandes. E nelas carregava o seu mundo. Um pequeno objecto de formas escabrosas, onde se podiam ler as histórias mais desconexas de qualquer significado aparente. Histórias que completavam o curso das suas estrelas.

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