O MIÚDO DAS ESTRELAS

Existia um outro mundo onde ele gostava de passear, normalmente ao fim do dia, quando descansa os olhos e se preparava para dormir. Ele não sabia dizer como lá ia parar, acontecia, simplesmente, assim que entendia que havia chegado o momento de partir para lá. Não era um mundo repleto de criaturas fantásticas, não era um mundo de fadas nem a terra do pai natal. Era um mundo igual ao que habitava, com casas, árvores e pessoas. Não existiam seres estranhos, princesas encantadas, príncipes a cavalo nem unicórnios. Era um mundo parecido àquele que conhecia.

Naquela noite resolveu passear à beira mar. Descalçara os sapatos pretos, os quais levou na mão, arregaçou as calças e caminhou sentindo a água fria nos seus pés. De cada vez que uma onda lhe chegava aos pés, parava, olhava para o céu e via uma estrela diferente brilhar mais do que as outras. E tantas foram as ondas quantas as estrelas que brilharam naquela noite e o céu ganhou uma beleza nunca antes vista até então. E quando não havia mais areia mas um bloco de rochas, para o qual subiu, voltou a olhar uma vez mais para o céu e chorou. As estrelas tinham-se apagado.

Foi então que sentiu a mão de um miúdo tocar-lhe no ombro.

- Tenho-te visto muitas vezes por aqui. Porque choras?
- Cometi um erro muito grave... apaguei as estrelas.
- Não existe tal erro. Como podes tu apagar as estrelas? Como podes tu acendê-las? Simplesmente não podes. Existe um curso natural para todas as coisas. Até eu sei isso.

Olhou para o miúdo e os seus olhos brilhavam como estrelas.

- Quem és tu? – Perguntou-lhe.
- Sou o miúdo das estrelas! Vem comigo, vou mostrar-te uma coisa.

E caminharam lado a lado.

- Eu sei que não pertences a este mundo. Aqui ninguém se incomoda se as estrelas brilham ou não. Só alguém de fora o faria. Aqui as pessoas estão a deixar-se morrer lentamente. Não se importam com nada nem ninguém. Só com o seu próprio prazer. Aqui não encontrarás o que procuras. Se é que procuras alguma coisa! Mas isso agora não importa. Chegámos.

E o miúdo baixou-se e abriu uma tampa de esgoto donde retirou uma pequena caixa.

– Aqui tens uma estrela. Guarda-a a bem...

Abriu os olhos e acordou no seu quarto laranja. Teria estado a sonhar? A janela do quarto estava aberta e no céu uma estrela brilhou mais forte que as outras. Riu-se para consigo. “Não pode ser”, pensou, “Estou a ficar maluco”. E no canto do quarto o Sr. Ninguém olhava-o nos olhos.

- O que é que procuras tu afinal? As estrelas não pagam a solidão. A solidão é que se paga com estrelas. Terás tu dinheiro suficiente? Bem me parecia que não.

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