PALAVRAS

“As soluções nunca estão nas linhas. Temos de ler sempre nas entrelinhas. As linhas são direitas de mais para compreender as soluções”, pensou ele. Não era justo! Mas ninguém revelava por palavras aquilo que queria dizer. As pessoas não conseguiam separar-se das figuras de estilo. Ou ele admitia isso de uma vez por todas ou iria acabar desamparado. Contudo, ele sabia que a solidão era cara demais para poder suportar sozinho. Alugar a solidão estava fora de questão, seria dinheiro deitado à rua e poderia não haver amanhã.

Para se satisfazer das suas necessidades agarrou-se aos livros, devorando-os vorazmente, para aprender os meandros dos homens. Rodou a sua biblioteca de alto a baixo, livros antigos, livros novos, livros repletos de imaginação, livros insípidos, livros gordos, livros magros, livros de amor, livros de ódio, livros... E em todos eles apercebeu-se da constante dor dos homens: almas presas em palavras por dizer. E o que seriam as palavras para além de palavras? Seriam elas mais valiosas do que os sentimentos? Seriam elas mais valiosas do que um gesto? “As palavras são apenas palavras. As palavras são apenas palavras. As palavras são apenas palavras” e não parava de repetir isso na sua cabeça. Não eram as palavras que o magoavam mas sim aquilo que estava por detrás delas. As palavras eram apenas palavras!

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